segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Sobre as palavras


A Carvena – José Saramago

Págs.126, 127
(...)
Cipriano Algor afastou-se em direção ao forno, ia murmurando, como uma cantilena sem significado, Marta, Marçal, Isaura, Achado, depois por ordem diferente, Marçal, Isaura, Achado, Marta, e outra ainda, Isaura, Marta, Achado, Marçal, e outra, Achado, Marçal, Marta, Isaura, enfim juntou-lhes o seu próprio nome, Cipriano, Cipriano, Cipriano, repetiu-o até perder a conta das vezes, até sentir que uma vertigem o lançava para fora de si mesmo, até deixar de compreender o sentido do que estava a dizer, então pronunciou a palavra forno, a palavra alpendre, a palavra barro, a palavra amoreira, a palavra eira, a palavra lanterna, a palavra terra, a palavra lenha, a palavra porta, a palavra cama, a palavra cemitério, a palavra asa, a palavra cântaro, a palavra furgoneta, a palavra água, a palavra olaria, a palavra erva, a palavra casa, a palavra fogo, a palavra cão, a palavra mulher, a palavra homem, a palavra, a palavra, e todas as coisas deste mundo, as nomeadas e as não nomeadas, as conhecidas e as secretas, as visíveis e as invisíveis, como um bando de aves que se cansasse de voar e descesse das nuvens, foram pousando pouco a pouco nos seus lugares, preenchendo as ausências e reordenando os sentidos. Cipriano Algor sentou-se num velho banco de pedra que o avô fizera colocar ao lado do forno, apoiou os cotovelos nos joelhos, o queixo nas mãos juntas e abertas, não olhava a casa nem a olaria, nem os campos que se estendiam para lá da estrada, nem os telhados da aldeia à sua direita, olhava só o chão semeado de minúsculos fragmentos de barro cozido, a terra alvacenta e granulosa que por baixo deles aparecia, uma formiga extraviada que erguia nas mandíbulas potentes uma pragana com duas vezes o seu tamanho, o recorte de uma pedra de onde a fina cabeça de uma lagartixa espreitou, para logo se sumir. Não tinha pensamentos nem sensações, era apenas o maior daqueles pedacinhos de barro, um torrãozinho seco que uma leve pressão de dedos bastaria para esfarelar, uma pragana que se soltara da espiga e era transportada pelo acaso de uma formiga, uma pedra aonde de vez em quando se acolhia um ser vivo, um escaravelho, ou uma lagartixa, ou uma ilusão.
(...)

sábado, 28 de janeiro de 2012

95

imagem net

Brincadeiras! Como são boas as brincadeiras!
Tudo, nem sempre, diz a mesma coisa.
Estarei eu à distância infinita de mim?
Ou, estarei tão perto que contrario a lei:
dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço
Mas qual a nossa dimensão? Qual a dimensão do espaço?

São os dias estranhos que destroem seu trabalho.
A porta está aberta.
Monte às costas do pássaro, o vento mostrará o caminho.
As asas dos pássaros:
Relíquias que se transformaram em raros penachos nos cachos dos capachos.
Ainda são 11:55 de hoje um dia uma noite que é uma data e daqui a 05 minutos será outra data outro dia de dia de noite.
Pensei, pensei e pensei a respeito do pensamento:
O pensamento corre através do tempo que confunde com vento. Ou será através do vento que parece com tempo?
O tempo e o vento!
O vento é o tempo.
Voe tempo no vento!
Vento, carregue o tempo!
Ouço o bater de asas... as asas visíveis
Pinto. Paro. Escrevo e escrevo.
Se lerão? Quem sabe?
Ponha a máscara!
Os pilares a sustentam.
Decifre o código!
E ultrapasse as fronteiras do tempo.
O anjo será a testemunha.
Um despertador!
Será travada a batalha dos tempos!
A prova: suportar o tempo.
O prêmio: passe livre para voar no tempo com o vento.
Há muito, o relógio, desde quando fora inventado, já havia perdido a batalha.
– Transformara-me em vento! –  
O vento sopra. Tempo que leva o vento.
Relógio marca as horas. Um dia ele pára!
Os pilares sustentam...
A máscara grita: “abre-te sésamo!”
Abre-se a porta...
A máscara é o mistério!

O mundo de um outro mundo. O túnel era uma das portas. O trem estava parado, esperando. Fascinante, lindo. O túnel estava lá, não conseguia tirar os olhos. Completamente deslumbrante. Ainda viajarei naquele trem.
Acorde!
As vozes da música. Fantasmas dirigindo nas estradas. O fim sem fim.
As garotas no jardim.
Quem é aquela?
Eu não sei.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

este vai!


O Som!!!!

Este vai para o Assis dos mileumpoemas.


Feelin' Good -  Nina Simone



A tradução não é minha.


Sentindo Bem


Pássaros voando alto, vocês sabem como eu me sinto
Sol no céu, você sabe como eu me sinto
Bambus balançando sozinhos, vocês sabem como eu me sinto
É um novo amanhecer é um novo dia e é uma nova vida para mim
E eu estou me sentindo bem

Peixe no mar, você sabe como eu me sinto
Rio correndo livre, você sabe como eu me sinto
Flores na árvore, vocês sabem como eu me sinto
É um novo amanhecer é um novo dia e é uma nova vida para mim
E eu estou me sentindo bem

Libélulas todas soltas ao sol
Vocês sabem o que quero dizer, vocês não sabem?
Borboletas todas se divertindo
Vocês sabem o que quero dizer
Dormir em paz
Quando o dia está terminado
E esse velho mundo é um novo mundo e um mundo ousado para mim

As estrelas quando brilham, vocês sabem como eu me sinto
O aroma do pinheiro, você sabe como eu me sinto
Yeah liberdade é minha vida
E você sabe como eu me sinto
É um novo amanhecer é um novo dia e é uma nova vida para mim
E eu estou me sentindo bem

Ooooh
(me sentindo bem)

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idéia 1994 - feitura 2012    -    clica que amplia

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Um Som!!!! e uma nota de repúdio


Primeira Manhã - Alceu Valença


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Nota de repúdio
É isso aí! Uma nota de repúdio à ação do poder na comunidade de Pinheirinho em São José dos Campos, São Paulo. Cidade e estado (des)governados pela direita brasileira dusquintodusinferno, que precisam da violência, da truculência, da intolerância pra mostrarem quem manda. Fascistas, autoritários, reacionários, trogloditas que estão a serviço da grande elite burguesa e que fazem mal, muito, muito mal, apodrecem a vida e assassinam o que há de melhor.


MASSACRE PINHEIRINHO - 22.jan.2012 - TODO APOIO À RESISTÊNCIA URBANA






sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Um Som e numa agenda de 94


Gostava muito de deixar rolar este som quando fazia programa na Santê.

Creedence Clearwater Revival - I Put Spell On You







Até quando sua mente pode lhe levar a conseguir que as portas se abram?
Aí o nada de nada deixa a consciência da ida, da volta
Volto de onde venho ou vou parar aonde fui?

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Duas linhas mais uma ponta. As linhas atravessam a linha, surge uma ponta. A ponta atravessa a linha, linha que divide a página, ponta que aponta a espiral, espiral que sustenta as páginas. I’m child.

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O deus Baco estava presente. Levantou vôo, foi pousar nas Bandeiras. Interrompido o momento retorna ao Olimpo onde a taça cheia de lilases o aguarda... enquanto isso, os faróis-vigia da máquina seguem os mortais -  aqui vocês não podem ficar – os escoltam de volta à civilização

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O peixe laranja, rosa sugava a nuvem...
a respiração do peixe é água e não...
há ar
O peixe voador respira ar... nos tufos
O papai noel vinha pela praia sendo puxado no seu trenó pelos tubarões

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Para os grandes urbanos
Decorações com motivos florais
Folhas, galhos grudados nos azulejos
Grudados nas paredes
Girassóis de papel
Real ou ilusão?
Violetas, narcisos, cactos
Até as carnívoras nos seus vasos
Com seus vasos completam a decoração
Tudo bem então!?
No meio do mato olhe em volta:
As coisas estão acontecendo!...

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Rosa Luxemburgo e Elis Regina


Uma carta da prisão a Sonia Liebknecht
Breslau, antes de 24 de dezembro de 1917.


(...) Ontem fiquei muito tempo acordada – agora não consigo dormir antes da uma, mas preciso ir para cama às 10 porque a luz é apagada –, e então no escuro sonho com diversas coisas. Ontem então pensava: como é estranho eu viver permanentemente numa alegre embriaguês, sem nenhuma razão particular. Assim, por exemplo, estou aqui deitada nesta cela escura, num colchão duro como pedra, enquanto à minha volta, no edifício, reina a habitual paz de cemitério; parece que estou no túmulo. Através da janela desenha-se no teto o reflexo do bico de gás ardendo a noite inteira diante da prisão. De tempo em tempos ouve-se o ruído surdo de um trem que passa ao longe, ou então, bem perto, debaixo das minhas janelas, o pigarro da sentinela que, com suas botas pesadas, dá alguns passos lentos para desentorpecer as pernas. A areia estala tão desesperadamente sob esses passos que todo o vazio e a falta de perspectivas da existência ressoam na noite úmida e sombria. E aqui estou deitada, quieta, sozinha, enrolada nos véus negros das trevas, do tédio, da falta de liberdade, do inverno – e, apesar disso, meu coração bate com uma alegria interior desconhecida, incompreensível, como se debaixo de um sol radiante estivesse atravessando um prado em flor. No escuro, sorrio à vida, como se conhecesse algum segredo mágico que pune todo mal e as tristes mentiras, transformando-as em luz intensa e em felicidade. E, ao mesmo tempo, procuro uma razão para esta alegria, não encontro nada, e tenho que sorrir novamente – de mim mesma. Creio que o segredo não é outro senão a própria vida; a profunda escuridão noturna é bela e suave como veludo, basta saber olhar. No estalar da areia úmida sob os passos lentos e pesados da sentinela canta também uma bela, uma pequena canção da vida – basta apenas saber ouvir. Nesses momentos penso em você. Gostaria tanto de passar-lhe essa chave mágica para que você percebesse sempre, em todas as situações, o que há de belo e alegre na vida, para que também você viva na embriaguês, como que caminhando por um prado cheio de cores. Longe de mim a idéia de contentá-la com ascetismo, com alegrias imaginárias. Concedo-lhe todas as verdadeiras alegrias dos sentidos que você deseja. Só gostaria de dar-lhe também a minha inesgotável serenidade interior, para não me preocupar mais com você, para que andasse na vida com um manto de estrelas protegendo-a de tudo que é mesquinho, banal e angustiante.
(...) Ah! Sonitchka, passei aqui por uma dor violenta. No pátio onde passeio chegam muitas vezes carroças do exército, abarrotadas de sacos, de túnicas velhas e camisas de soldados, muitas vezes manchadas de sangue...; são descarregadas, distribuídas pelas celas, consertadas, novamente postas nas carroças para serem entregues ao exército. Outro dia, chegou uma dessas carroças, puxada não por cavalos, mas por búfalos. Era a primeira vez que via esses animais de perto. São mais fortes e maiores que os nossos bois, têm a cabeça chata, chifres curvos e baixos, e uma cabeça totalmente negra, de grandes olhos meigos, que lembra a dos nossos carneiros. Originários da Romênia, são um troféu de guerra... os soldados que conduziam a carroça diziam ser muito difícil capturar esses animais selvagens, e ainda mais difícil utilizá-los para carregar fardos, pois estavam acostumados à liberdade. Foram terrivelmente maltratados até compreenderem que perderam a guerra e que também para eles vale a expressão “vae victis” [ai dos vencidos]... Só em Breslau deve haver uma centena desses animais; acostumados que estavam às ricas pastagens da Romênia recebem ali uma ração parca, miserável. Trabalham sem descanso puxando todo tipo de carga e com isso não demoram a morrer. Há alguns dias então uma dessas carroças cheia de sacos entrou no pátio. A carga era tão alta que os búfalos não conseguiam transpor a soleira do portão. O soldado que os acompanhava, um tipo brutal, pôs-se a bater-lhes de tal maneira com o grosso cabo do chicote que a vigia da prisão, indignada, perguntou-lhe se não tinha pena dos animais. “Ninguém tem pena de nós, homens”, respondeu com um sorriso mau e pôs-se a bater ainda com mais força... Os animais deram finalmente um puxão e conseguiram transpor o obstáculo, mas um deles sangrava... Sonitchka, a pele do búfalo é proverbialmente espessa e resistente, e ela foi dilacerada. Durante o descarregamento, os animais permaneciam imóveis, esgotados, e um deles, o que sangrava, olhava em frente e tinha, na cara escura e nos olhos negros e meigos, uma expressão de uma criança em prantos. Era exatamente a expressão de uma criança que foi severamente punida e que não sabe por qual motivo nem porquê, que não sabe como escapar ao sofrimento e a essa força brutal... eu estava diante dele, o animal me olhava, as lágrimas saltaram-me dos olhos – eram as suas lágrimas. Ninguém pode sofrer mais por um irmão querido do que eu sofri na minha impotência com essa dor silenciosa. Como estavam longe, perdidas, inacessíveis, as pastagens da Romênia, essas pastagens verdes suculentas e livres! Como tudo lá era diferente, o brilho do Sol, o sopro do vento, como eram diferentes os belos cantos dos pássaros ou o melodioso chamado do pastor. E aqui – esta cidade estrangeira, horrível, o estábulo sombrio, o feno mofado, repugnante, misturado com a palha apodrecida, os homens desconhecidos, assustadores, e – as pancadas, o sangue que corre da ferida aberta... Oh! meu pobre búfalo, meu pobre irmão querido, aqui estamos os dois tão impotentes e mudos, mas somos só um na dor, na impotência, na saudade. Entretanto os prisioneiros agitavam-se em volta do carro, descarregavam os pesados sacos e arrastavam-nos para dentro; já o soldado enfiara as mãos nos bolsos das calças e percorrendo o pátio com grandes passos, ria e assobiava baixinho uma canção da moda. Diante de mim a guerra desfilava em todo o seu esplendor.
Escreva logo.
Abraços, Sonitchka,
Sua Rosa
Soniuscha, querida, fique calma e alegre apesar de tudo. Assim é a vida. É preciso tomá-la corajosamente, sem medo, sorrindo – apesar de tudo. Feliz Natal!


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Um Som!!!!
Elis Regina - Cais

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

coisas de um concurso e um som

Um dos motivos que gosto das férias é que dá pra organizar um bocado das coisas que vão ficando sempre pra depois. Em uma destas mexidas achei um bloquinho onde vão algumas anotações de quando em 2004 me aventurei a participar de um concurso de poesias, assunto já tocado aqui em outra postagem, e também fiz uns rabiscos e desenhos. Mostro abaixo as anotações e os rabiscos e desenhos levo lá pro toc! toc! toc!

Por onde começarei? São todos de um determinado tempo, feitos de uma vez, tinha que ser assim. Uma apresentação poética. É meu primeiro concurso. Apresento-as da forma não de um discurso. São poemas? Esqueço o que penso dos poemas e apresento as poesias(?) rimadas, desarrumadas, nuas, desnudas – um riso no canto da boca. Cotidianamente respiro, espirro, aspiro, inspiro, sim, eu transpiro, piro. “E quem mexe com fogo faz xixi na cama”, alguns dizem. Aqui estamos para transformar, trans – formar, boas passagens.
É..., fica assim..., apontando para o caderno. Talvez não fosse pra mim tão fácil ordenar, as idéias fogem. Poderia a primeira ser mais ruim? Uma careta. Seria necessário algo para inspirar ou então pegue algo já digitado e faça os consertos necessários, foi-se, maybe.
Não mais citarei desta forma, nada disso. Quero dizer, ou melhor, escrever que não escreverei isto: simplesmente as palavras somem, a conexão desencaixa toda, o pensamento sem sequência aqui e acolá quando pego na caneta e resolvo escrever. Tento algo pela, sei lá que vez, espero essa, nesse momento, a última. Preciso escrever 15 ou 30 páginas de poemas, ou faço isso ou vou naqueles escritos.
Ouço um apito mais ou menos assim, ao tradicional me limito, piuiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
O trem cargueiro vai lá embaixo. Quem sabe o que vai nele? Eu sei e não digo – sabe nada! Nele tem um segredo – é um blefe! Seu carregamento foi feito há tempos. Não posso dizer, tenho que rimar. Uma bela bandeja trazia figo, um figo para o folguedo onde menos se comia. A tela festeira pintava-se em cada ponto da colina, desde a brincadeira canina. 


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Um Som!!!!

Victor Jara - Deja la vida volar 

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

uns de 95 e um som

através da fumaça, as casas...
é a dança do rebolado!
casas que só verei...
de outros cigarros
não tema!
a grade impede a queda


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desconhecido vem do conhecido acrescido do prefixo des. 
negação nasce de um lado, afirmação do outro.
novas expressões:
qualquer dia se encontram
uma,
_ você é conhecida
_ e tu és dez

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tudo foi apagado. 
palavras deram lugar aos desenhos
a mente guarda
a borracha vem do tronco
o grafite carbono
como apagar um pensamento?
simplesmente esqueça-o

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passa uma carruagem
os cavalos a levam
passeiam pelas brumas
ao entardecer entram
na densidade da floresta
o sol leva o dia
a lua trás a noite
o momento da troca: qualquer momento
as metades:
metades inteiras unidas
inteiras a formarem metades
não tenha medo!
a confusão pode ser estável

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os instantes entram pelas janelas dos quartos
as ondas dançam
a música toca
o instante entra na onda das ondas
sentada na varanda
a casa é grande e velha
velha como o tempo
a criança  olha, vê e enxerga tudo
que não é nada
nada:
que não é nada
que não quer nada
que não sabe nada
o nada é inútil!
nada para...
então, pára!
o tempo para...
então, pára!
anda, tempo!
comece seu próprio ciclo
a sucata está cheia de relógios!
já não são mais necessários

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O Som!!!!

O poeta aprendiz 


sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Branco e Catatau em ruas vazias de gente

Pensei em repetir uma postagem (*) com dois escritos (pertencentes aos unidos pelo asterisco) que fiz referentes a esta data, 06 de janeiro, e que não foram nem escritos e nem postados na data citada, hoje ia coincidi-los.
Mas o caso é que fui à estante e peguei este livro, ruas vazias de gente, de Geraldo Magela de Fátima e Moisés Augusto Gonçalves (http://moisesaugusto.blogspot.com/ ), é o que trago.


                        ruas vazias de gente
Apresentação
Poesia. Poema. Ruas vazias de gente é um livro duplo, onde os caminhos se cruzam no mundo imaginário dos sonhos, utopias e palavras. Por um lado, as ruelas interiores. Espelhos d’água refletidos na angustia de cada momento. No cheiro doce da goiaba e no calor das multidões.
            Por outro lado, as estradas bifurcadas pela luta social. A busca constante pela construção de um espírito mais sensível à dor alheia. A dor humana. O sabor das manhãs e o balanço dos barcos sem porto fixo. Definido. Cais de outras linhas.
            Dois atores. Dois autores. Duas vidas. Mas que em um (in) determinado momento, são impulsionados pelo vento para a mesma lida. Transformar em palavras os sentimentos naufragados pela busca.
            Trabalho cunhado pelo suor do rosto, pelo calor das mãos, pelo balanço das nádegas e o movimento dos dias. Colisão antropofágica imersa na alma humana. Antologia no coração das lutas. Ruas vazias de gente é uma leitura de mundo. Dos mundos. Onde o mergulho no simulacro, abre marcas com fogo. Ruas vazias de gente viaja o avesso das coisas. Verso de formas, cores e lua minguante. Clareira de estrelas em noite de porre. Olhar de esperança por essas estradas de pedra-sabão. E outras histórias...
            Geraldo Magela de Fátima (Branco)
            Moisés Augusto Gonçalves (Catatau)
Belo Horizonte- Fevereiro de 2007
                                  
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“Poesia... É flecha de fogo que rasga a alma
            Aceno despido pela calçada
       Palavra polida na curva molhada”

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Geraldo Magela de Fátima (Branco)

            Contraponto
Um sorriso luminoso atravessa o espelho
silhuetas criam um contraste mágico no vidro
o fogo que apaga a água
se queima no labirinto
curvas formadas no rosto
denunciam a idade avançada
de um flamingo,
em trajes de gala
um defunto norueguês revela
a chuva morna e cálida
soprada pela brisa forte do vento
Sons misteriosos
se propagam pela escada,
sombras obscuras se esquivam de esquina em esquina.

Contraponto
Clássico, novo, velho e moderno.
Pós-moderno. A rigidez das ferraduras.
A timidez das linhas de trem
sempre retas.
Demônios coabitam meu espírito
gaivotas cortam o céu de vermelho
anjos me cercam sempre vazios
A vida brota... entre meus dedos,
azul-turquesa denuncia meu grito
mais uma vez me sinto sozinho.

                        *

Eu signo
O mundo do rio é de água.
e eu rio.

O mundo do rio deságua,
e eu mar.

As águas do rio são palavras,
e eu falo.

As margens do rio são de areia,
e eu leito. Fanado.

As pedras do rio se transformam,
em seios. Deleito.

O rio é linguagem de seres aquáticos,
e eu signo.
                       
**********************************

“Romper as amarras não é o ocaso
O pássaro que rompe meu peito,
            abraça a aurora... “

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Moisés Augusto Gonçalves (Catatau)

            No cais desta vida
Levanto âncoras de pés virgens de estradas e rumos;
cravados ao chão perderam horizontes, tempos e rimas.
Não viram os navios carregados de gentes e esperanças
                                                               [que se foram,
embaladas na promessa de adeuses sem retornos.
No cais desta vida, sou a lânguida e última fornalha
[acesa;
insisto em ficar acordado, incandescente e alerta
à espera do barco, da lenha,
do sussurro no ouvido,
das mãos bailarinas deslizando
nas curvas suadas do gozo de ter-te.

                        *

            Frêmito
Perdoe-me o frêmito
veemente de vida.
Cavalgo nuvens etéreas,
viajo por horizontes infindos.
Sou pássaro,
minhas asas são sonho.

                        ***********************

 O SOM!!!!!

Jim Morrison




terça-feira, 3 de janeiro de 2012

UM SOM!!!!


The Doors - I'm a King bee




♥*♥*♥*♥*♥*♥*♥*♥*♥

Pra início de 2012 lá no Toc!Toc!Toc! junto às meninas fofas Liz estamos em altas experimentações.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

uma historinha

Guardo esta historia há mais de 10 anos, ela foi imaginada e rascunhada quando morava em Viçosa. Tudo aconteceu depois de uma noite em que fui convidada para um churrasco no meio do mato. O terreno da UFV – Universidade Federal de Viçosa – é grande, cheio de trilhas e muito verde, árvores e pequenas clareiras, numa destas trilhas que explorávamos foi escolhida como local. Os meninos, dois rapazes, ficaram incumbidos dos tocos de eucalipto para fazer carvão e da cachaça e eu com a parte das asinhas para o churrasco. Para iluminar, pois seria de noite, levamos velas. Marcamos para uma noite de festa na universidade onde os vigias estariam bem ocupados.
Como a imaginação borbulha de detalhes tentarei encurtar.

 imagem: net/ colei a abelha 


A ABELHINHA COM ALMA DE MARIPOSA
Era uma vez...
Natureza-mãe, mãe das abelhas, das mariposas.
Num lugar não muito distante, sem castelos, príncipes ou princesas, mas com uma rainha e muitas operárias, em um Recanto, uma colméia.
E eis que em um belo dia de verão, quente e de sol a pino, nasce uma abelhinha igual a todas aparentemente, sua diferença era outra, ela nascia semelhante, mas sua alma pertencia a outra espécie, a das mariposas. Ninguém na colmeia poderia dar por esta diferença, assim de imediato, não era aparente, pertencia às entranhas, as coisas aconteceriam mais pra frente.
Tudo transcorria normal desde seu nascimento, até o momento, ainda na infância, que marcaria o resto de sua vida.
Depois de um dia de aprendizados e trabalho, quando todas voltavam para a colmeia, de repente, depararam-se com um fumaceiro vindo de um fogaréu. Enquanto as outras zuniam agitadas tentando voar pra longe, nossa abelhinha parou, hipnotizada, a quentura percorrendo todo seu corpinho até às asas. Parou encantada e de olhos arregalados percorria as cores que se mostravam, cores intensas, vermelho, amarelo, laranja, azul. O que era aquilo? Se perguntava. Sacudida e tirada foi puxada por uma adulta para longe dali, ela nada ouvia das abelhas grandes e nem das amigas que zumbiam doidinhas, desesperadas. Ao ser levada de volta, reparou sim, em outras voadoras que vinham ao longe bailando e entoando sons diferentes, pareciam até cantar.
Ao chegar segura na colmeia quis saber o que era aquilo que havia visto e foi logo despejando:
- Que cores eram aquelas tão bonitas e tão cheias de calor? De onde vieram? Qual é o seu nome? Quem fez aquilo?  
Foi o bastante para paralisar todas as abelhas que ali estavam, o choque com as perguntas da pequena foi maior que o susto de há pouco, então uma das mais velhas disse:
- Pequenina, acaso quebraste as antenas? Aquilo que nos fez arder olhos e nos fez tossir é a fumaça e o que estava atrás, embaixo, do lado dela é o fogo. Ele queima, temos medo dele e acabaria com ti num segundo.
A abelhinha não se importou com aquelas palavras e ainda mais curiosa:
- De onde o fogo (experimentando o som), o fogo vem, como ele aparece? E aquelas outras que chegavam, quem eram, de onde vieram?
- Chega! Você precisa de descanso e se acalme, pode ter batido a cabecinha. É bom que fique longe daquelas, elas são as mariposas, são adoradoras, dizem até fazer sacrifícios. Mas isto não é assunto pra ti. Vá!
Ela se foi, mas desde este dia nada mais seria como antes. Ela queria mais, queria saber mais sobre o fogo, queria saber mais sobre as mariposas e decidiu, tinha que ir embora.
Mas o tempo foi passando, e a abelhinha crescendo, se tornara uma jovem abelhinha graciosa e formosa, forte e corajosa. Sempre a cumprir com seus afazeres de operária, no entanto sempre que surgia ou ela fazia surgir uma oportunidade saia à procura do fogo. E sozinha ia, e quando podia sentir fumaça sabia que tinha fogo, ia voando e ao chegar perto parava e ficava por tempos lá olhando e sentindo. Um dia resolveu chegar mais perto e não soube descrever o que passou com ela, desde as antenas passando pelas asas até o ferrão, ficou maravilhada, extasiada, quase um transe, não entendia porque ficava assim tão fascinada e atraída. Neste dia viu as mariposas de perto, eram as grandes, havia uma beleza em suas asas, e como elas pareciam livres e belas e tão seguras.
Não entendia o que se passava com ela, um medo, um desejo, mas não agüentava mais, tinha que ir embora.
Numa noite, largou tudo para trás e se foi.
Alguns dias se passaram... e muito se deu nesses dias. 
E em uma noite mais adiante, ela voando, procurava um lugar para descansar, foi quando ouviu estranhos barulhos e ao longe pode perceber pontos de luz, as anteninhas logo se esticaram e ela excitada voou naquela direção.
Voou entre as árvores, chegou a uma pequena clareira onde três seres estavam, ainda não havia visto tipos como aqueles, gigantes, eram retos, usavam somente duas pernas para se locomoverem e as outras duas usavam para pegar coisas, e ela pode escutar além do som que faziam com a boca outros sons que vinham de uma caixinha, gostou daquilo. Foi quando viu as brasas, já sabia das brasas e pode ver em três pontos diferentes, grudadas nas árvores três coisas compridas, brancas e na ponta de cada uma, uma chama, uma labareda, um pequeno fogo. Nunca tinha visto fogo assim pequeno, parado, apenas uma chama que brincava com o vento indo e vindo, oras parecia que ia apagar, mas de repente aumentava. Resolveu chegar perto da que estava mais ‘dançante’ e sem medo se aproximou.
- Olá! Eu sou a abelhinha.
- Olá, abelhinha, eu sou a chama de uma vela ou o fogo de uma vela, como você preferir.
- Vela? O que é isto?
- Você vê este corpo comprido, ele é feito de cera e bem no meio tem um cordão, é o pavio, o que queima e faz a chama que você vê.
- E como é?
- Estes que você vê acendem o pavio e vou queimando devagar à medida que a cera vai derretendo.
- Aaaaahhhhh! E nós podemos brincar? E você pode me contar tudo o que você sabe?-Pede a abelhinha.
- Claro minha pequena, mas estou preso aqui.
- Não importa vamos nos divertir.
Assim começou a amizade entre a abelhinha e aquela chama, o fogo de uma vela. Assim passaram aquele tempo conversando, brincando, dançando, fazendo sombras, a abelhinha contava dela e a chama explicava tudo que sabia sobre si e mais.
E a cera foi derretendo.
Pouco antes do pavio queimar totalmente ele fala à abelhinha:
- Preciso ir querida abelhinha, se cuida e fique longe dos grandes, foi um prazer conhecer você e passar uma noite, uma existência tão agradável.
- Eu verei você novamente?
- Sim, você me verá em outras velas. Adeus, abelhinha!
E a nossa pequena abelhinha muito emocionada e feliz, no último instante da chama, ela voa para dar um abraço de despedida em sua nova amiga. A chama e a abelhinha que havia nascido com alma de mariposa se apagam no abraço.


FIM

A tormenta que se tornou

A vontade é ir preenchendo as tantas linhas vazias com toda manifestação das emoções que se dão, afloram e transpiram, ocupando de rab...