quinta-feira, 30 de junho de 2011

um som!

ao tom de 


Guindaste a Rigor

Composição: (Tom Zé)

Eu quero um trem de doze vagões
Pra marcar o compasso pois eu vou cantar
Quero dez máquinas de concreto
Porque não gosto de violino
Quero um discurso do Nero
Para fazer contraponto
Doze motocicletas no lugar do contrabaixo
Para reger o conjunto, um guindaste a rigor
E na hora do breque um belo assopro de coca-cola
Ah, ah, ah que cola
A tonalidade é ré sustenido bem claro
Ou mi colorido bemol
Sidomidelamefalasemsirelanemsolfa
Para parceiro na letra
Satanás de babydoll
Ou um camundongo sádico que tem a língua vermelha
E no fim da primeira parte beije a Brigitte Bardal
Mas, ora, veja:
Enquanto eu cantava
O verbo enganado
Com a língua do poeta enrolada no pescoço
Pendurado sem socorro
Já parou de balançar as pernas
Já parou de balançar as pernas
Já parou de balançar as pernas
Já parou de balançar as pernas
Já parou

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*** uma licencinha pra um detalhezinho
 :) eu gosto e voou longe c'um violino ****


segunda-feira, 27 de junho de 2011

e voltam

os sonhos

Num movimento de rotação
rodopio ante o impacto dum jato d’água:
tamanho natural
A mangueira a mulher a tinha segura nas mãos
Em pêlo a parede ampara-me
Água racionada.
Sêde tenho.
Alguém num canto morre por tudo
A terra:
Sêca, dura, torrões formam-se
” Reguem-me, frutifiquem-me, reproduzam-me, colham-me,
pois se assim for, serão compensados .”

(2001)

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Fazer retas sucintas...
Soldados senhores guardiães
permanecem na guarita.
E do lado de fora alguns estão...
Nua,
e tão nua escondo-me
Barram-me a entrada
- Gosto das alturas!
- Vim aqui escrever sonhos!
O lago das águas, absorvente das cores,
estendia-se...
Assim como estava, aguardava repreendida,
quando colocaram-me panos.
E a noite densa guardava a torre
'Um primo já morto dizia-me ter derramado lágrimas'
Enquanto esperava terminarem as conversações
Para as permissões, as embarcações...
Admirava serena a quietude e escuridão do lago
E pensava no porquê de estarmos ali
E no que faríamos dali por diante...
Sem estacas, cruzes, réstia
Ou mesmo a dita água-benta
Os vampiros da Noruega sabiam que chegaríamos.

(2001)

domingo, 19 de junho de 2011

dos lugares

O CEMITÉRIO Lima Barreto

Pelas ruas de túmulos, fomos calados. Eu olhava vagamente aquela multidão de sepulturas, que trepavam, tocavam-se, lutavam por espaço, na estreiteza da vaga e nas encostas das colinas aos lados. Algumas pareciam se olhar com afeto, roçando-se amigavelmente; em outras, transparecia a repugnância de estarem juntas. Havia solicitações incompreensíveis e também repulsões e antipatias; havia túmulos arrogantes, imponentes, vaidosos e pobres e humildes; e, em todos, ressumava o esforço extraordinário para escapar ao nivelamento da morte, ao apagamento que ela traz às condições e às fortunas.

Amontoavam-se esculturas de mármore, vasos, cruzes e inscrições; iam além; erguiam pirâmides de pedra tosca, faziam caramanchéis extravagantes, imaginavam complicações de matos e plantas - coisas brancas e delirantes, de um mau gosto que irritava. As inscrições exuberavam; longas, cheias de nomes, sobrenomes e datas, não nos traziam à lembrança nem um nome ilustre sequer; em vão procurei ler nelas celebridades, notabilidades mortas; não as encontrei. E de tal modo a nossa sociedade nos marca um tão profundo ponto, que até ali, naquele campo de mortos, mudo laboratório de decomposição, tive uma imagem dela, feita inconscientemente de um propósito, firmemente desenhada por aquele acesso de túmulos pobres e ricos, grotescos e nobres, de mármore e pedra, cobrindo vulgaridades iguais umas às outras por força estranha às suas vontades, a lutar...

Fomos indo. A carreta, empunhada pelas mãos profissionais dos empregados, ia dobrando as alamedas, tomando ruas, até que chegou à boca do soturno buraco, por onde se via fugir, para sempre do nosso olhar, a humildade e a tristeza do contínuo da Secretaria dos Cultos.

Antes que lá chegássemos, porém, detive-me um pouco num túmulo de límpidos mármores, ajeitados em capela gótica, com anjos e cruzes que a rematavam pretensiosamente.
Nos cantos da lápide, vasos com flores de biscuit e, debaixo de um vidro, à nívea altura da base da capelinha, em meio corpo, o retrato da morta que o túmulo engolira. Como se estivesse na Rua do Ouvidor, não pude suster um pensamento mau e quase exclamei:

— Bela mulher!

Estive a ver a fotografia e logo em seguida me veio à mente que aqueles olhos, que aquela boca provocadora de beijos, que aqueles seios túmidos, tentadores de longos contatos carnais, estariam àquela hora reduzidos a uma pasta fedorenta, debaixo de uma porção de terra embebida de gordura.

Que resultados teve a sua beleza na terra? Que coisas eternas criaram os homens que ela inspirou? Nada, ou talvez outros homens, para morrer e sofrer. Não passou disso, tudo mais se perdeu; tudo mais não teve existência, nem mesmo para ela e para os seus amados; foi breve, instantâneo, e fugaz.

Abalei-me! Eu que dizia a todo o mundo que amava a vida, eu que afirmava a minha admiração pelas coisas da sociedade - eu meditar como um cientista profeta hebraico! 
Era estranho! Remanescente de noções que se me infiltraram e cuja entrada em mim mesmo eu não percebera! Quem pode fugir a elas?

Continuando a andar, adivinhei as mãos da mulher, diáfanas e de dedos longos; compus o seu busto ereto e cheio, a cintura, os quadris, o pescoço, esguio e modelado, as espáduas brancas, o rosto sereno e iluminado por um par de olhos indefinidos de tristeza e desejos...

Já não era mais o retrato da mulher do túmulo; era de uma, viva, que me falava.

Com que surpresa, verifiquei isso.

Pois eu, eu que vivia desde os dezesseis anos, despreocupadamente, passando pelos meus olhos, na Rua do Ouvidor, todos os figurinos dos jornais de modas, eu me impressionar por aquela menina do cemitério! Era curioso.

E, por mais que procurasse explicar, não pude.



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--A---Luci---n'ação----da----Realidade----

Saímos pela noite
Cada qual com sua sombra
Cada um carregando um fantasma
Nos bares, alguns bebiam, outras fumavam
Bebemos, fumamos
E nossas fumaças tomaram forma
Aspiramo-las todas com suas vozes
e elas foram subindo e gritando
até não podermos escutar mais nada.
A rua chamava-nos
Não andávamos.
Como sonâmbulos fomos levados ao portão
A noite era densa
O ar frio
Num repente, assaltamos os portais
- A Terra Sagrada dos Mortos 
-AQUI SOMOS TODOS IGUAIS
Mentira!
A superfície mente
Ostentação das catacumbas
Riqueza dos mausoléus
Simples são as placas. Humildes são as cruzes.
A verdade está nas larvas, debaixo dos sete palmos
Somos todos iguais
Não importa nada a elas, tudo podre e comido.
E os vivos caminham
em meio às sombras, anjos e santos
As palavras numa frenética dança, vão e vêm.
Numa corredeira louca,
a menina pula amarelinha nas catacumbas
Sai do inferno em busca do céu.
Novamente vozes:
- Por que abraça a árvore?
- É a árvore da morte. É a árvore dos mortos.
(C- 25/09/2000)

* repetido e faz parte dos 'unidos pelo asterisco'.


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terça-feira, 14 de junho de 2011

Agenda: Mário Quintana - Diário Poético - 1992

Quarta-feira 13 de maio de 1992

XXX
A TV é uma forma colorida da vagabundagem. (MQ)


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Segunda-feira 13 de maio de 1996

Em um 13 como este, não uma quarta, uma segunda, triste feliz coincidência, pois era exatamente o que fazia. Por ser a segunda taxada 'o dia em que se começa tudo', estava eu lá, deitada em colchão assistindo tv. Daí pergunto: Quem se importa? Eu não ligo a mínima, porque definitivamente, segunda não é o meu dia de começar qualquer coisa ou coisa alguma. Se há a crença nela... A liberdade está aí!


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Fragmentos de Um Discurso Amoroso
Roland Barthes

A última folha

MAGIA.Consultas mágicas, pequenos ritos secretos e ações de graças não estão ausentes da vida do sujeito apaixonado, qualquer que seja sua cultura.

Schubert, “Letz Hoffnung”, Viagem de inverno.
  1. “Subsistem folhas nas árvores, aqui e ali. E fico frequentemente diante delas, pensativo. Contemplo uma folha e fixo nela minha esperança. Quando o vento brinca com ela, todo meu ser treme. E se ela cai, que se pode fazer, minha esperança cai com ela.”
Para poder interrogar a sorte, é preciso uma pergunta alternativa (Mal me quer/Bem me quer), um objeto suscetível de uma variação simples (Vai cair/Não vai cair) e uma força exterior (divindade, acaso, vento) que marque um dos pólos da variação. Faço sempre a mesma pergunta (serei amado?), e essa pergunta é alternativa: tudo ou nada; não concebo que as coisas amadureçam, escapem às conveniências do desejo. Não sou dialético. A dialética diria: a folha não cairá, e depois ela cairá; mas enquanto isso você terá mudado e não fará mais a pergunta.
(Ao consultar quem quer que seja, espero que me digam: “a pessoa que você ama também o ama e vai lhe dizer isso essa noite”.)


  1. Às vezes, a angústia é tão forte, tão apertada (pois essa é a etimologia da palavra) – um angústia de espera, por exemplo -, que é preciso fazer alguma coisa. Essa “alguma coisa” é naturalmente(ancestralmente) uma promessa: se (você voltar...) então cumprirei minha promessa.
Confidência de X...: “ A primeira vez, ele acendeu uma vela numa igrejinha italiana. Foi surpreendido pela beleza da chama e o gesto lhe pareceu menos idiota. Por que então se privar do prazer de criar uma luz? E ele recomeçou, acrescentando a esse delicado gesto (inclinar a vela nova sobre a vela já acesa, esfregar docemente as mechas, ter prazer em ver o fogo pegar, encher os olhos dessa luz íntima e forte) promessas cada vez mais vagas, que abrangiam – por medo de escolher – “tudo que não vai bem no mundo”.


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13/06/2011
E não muito raro acordo às segundas com aquela estranha sensação de estar viva. Abro os olhos e respiro. Continuo deitada e as cenas do sonho, quando há, me chegam, e espanto com toda a estranheza do sub in consciente das imagens. Lugares que não sei e que nunca fui, gentes que nunca vi. Fecho e abro novamente os olhos, levanto e olho as meninas dormindo, olho o pai delas na cozinha. Vejo minha rotina nova de alguns anos tornada e a sensação de estranheza permanece. Estranho ser mãe, estranho ser esposa. E me entrego à rotina, aos afazeres que me esperam, tanque, pia, respirar, comer, vassoura, panos, rodo, desfazer-me nas necessidades fisiológicas, bucha, sabão, luvas, pois as mão regaçam de alergia se não usá-las, 'dona de casa com alergia é o fim ou um porre ou uma ressaca fudida'. E continuo, recolhendo objetos espalhados e vou aos uniformes, panelas, arrumações, cozimentos, lavações, varreções, pensamentos enquanto isso, e vou e volto viva estranha estranhando, amando, sentindo, cuidando, odiando os carros e seus motoristas na travessia da avenida, 'se tivesse pedra tacava, mas não né?' Então grito e xingo. Respiro, ouço, vejo, pego, falo, cheiro, beijo, abraço, penso, raciocino, sinto vida mais estranha.  


sexta-feira, 10 de junho de 2011

transferindo

Do toc! toc! toc! pra cá.


Os gostos. Não resisto, vejo-me. Mas não importa se não estou lá, mesmo assim me vem, então não resisto, fico a me ver. E que sejam as quaisquer motivações, não resisto:
Em ver com outros olhos, em sentir com outros sabores, em tentar com outras palavras, em tentar com outros seres, em tentar com outras ações.
Neste caso, não resisto.
(2011)

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Soneto 
Luís de Camões


O fogo que na branda cera ardia,
Vendo o rosto gentil que eu na alma vejo,
Se acendeu de outro fogo do desejo,
Por alcançar a luz que vence o dia.


Como de dous ardores se incendia,
Da grande impaciência fez despejo,
E, remetendo com furor sobejo,
Vos foi beijar na parte onde se via.


Ditosa aquela flama, que se atreve
A apagar seus ardores e tormentos
Na vista de que o mundo tremer deve!


Namoram-se, Senhora, os Elementos
De vós, e queima o fogo aquela neve
Que queima corações e pensamentos.

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Os corpos tem V’s, eu tenho no meu, V’s, triângulos  inacabados sem base ou sem lado. A superfície se olhar bem, verá V’s, retas inclinadas, transversais formadas pelo encontro nos vértices das que vem com aquelas que partem. Ângulos agudos, obtusos, retos, rasos, procure-os.
Vasta vida verde vestida vislumbra versos ventos varridos vidradas vistas voláteis vertidos invertidos...
Formá-los com os membros, V’s na junção dos joelhos, sentar coxas unidas e pés separados, no ajuntamento dos pulsos e as mãos espalmadas.
Vertentes vértebras volume vinho a escorrer aos vales da volúpia.
O tronco na horizontal, V’s nas pernas escancaradas ao alto, no braço semi erguido e o cotovelo apontando o chão.
E quando a mão toca o ombro, uma base, triângulos acabados, e vão surgindo bases, lados, onde não havia, imaginárias ou concretas.
Viu viajou vagou variantes voltas vou e volto.
(2009)

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Soneto
Luís de Camões

Quando a suprema dor muito me aperta,
Se digo que desejo esquecimento,
É a força que se faz ao pensamento,
De que a vontade livre desconcerta.

Assi, de erro tão grave me desperta
A luz do bem regido entendimento,
Que mostra ser engano ou fingimento
Dizer que em tal descanso mais se acerta.

Porque essa própria imagem, que na mente
Me representa o bem de que careço,
Faz-mo de um certo modo ser presente.

Ditosa é, logo, a pena que padeço,
Pois que da causa dela em mim se sente
Um bem que, inda sem ver-vos, reconheço.

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domingo, 5 de junho de 2011

acesso limitado

Voltei! Voltamos!
É isso aí, voltei!
Ôu, tô nem ligando, e nem sei qual que é do lance de acesso limitado:
voltei, tô aqui novamente.
Tava triste, altamente desanimada, um sentimento de perda da porra, não estava sendo a mesma coisa, não seria o mesmo troço.
Não importa o drama, o caos que talvez tenha passado, toda minha falta de atenção, a lerdeza e o que seja.
Voltei aqui novamente nas entranhas deste bolgue, desta página pra fuçar, mudar e fazer o que quiser o que puder o que me der na teia o que me der no sangue o que sentir, mesmo com acesso limitado, que descobrirei aonde.
E tudo voltará e estou de volta aqui ao sabor do toque até às últimas consequências.
Tô assim muito muito abestaiada, muito feliz mesmo, muito boba que não me caibo, pode ser ridículo, mas tô nem aí, só sei que aqui de novo.


Cuidarei de uns ajeitamentos.


Carinhos e agradecimentos a vocês é o que não faltam.


Saravá! 
Namastê!
Saudações em todas as línguas e gestos!
E inté mais transbordantes e tesantes.


Edel Vais.


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Não resisti em deixar rolar um SOM!!!!! Então vai este acréscimo.





A tormenta que se tornou

A vontade é ir preenchendo as tantas linhas vazias com toda manifestação das emoções que se dão, afloram e transpiram, ocupando de rab...