quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Anos depois

31 de março de 1964: golpe militar.
14 dias após o golpe, o Projeto de alfabetização de adultos é extinto, Paulo Freire é preso por duas vezes em Recife para prestar depoimentos, chega a ficar 75 dias detido, é obrigado a ir ao Rio de Janeiro para o interrogatório. É Paulo Freire quem nos conta:

Eu me lembro por exemplo, quando eu fui preso pela primeira vez, e que tive que atravessar uma rua. Eu estava parado em frente ao quartel, onde eu tinha que ser metido e tava havendo tráfego pra cá e pra lá. E então, eu fiquei parado com o sargento, havia um sargento e um soldado, cada um com uma metralhadora em cima de mim. Inclusive, eu ficava espantadíssimo! Eu dizia, esse pessoal deve saber coisas de mim que eu não sei, quer dizer, esse pessoal deve ter informações de que eu vivo, que sou um líder extraordinário, que eu devia ter feito a revolução anteontem, nesse país. Então são loucos! Loucos varridos! Como é que um cara como eu, Professor humilde e simples, precisava de um aparato daqueles em cima de mim? Era fuzil muito pra um cara só! Então, que eu me lembro, que parado assim, cercado de balas por todos os lados... Eu era a ilha das balas! Você já imaginou? Que coisa ridícula! Profuuunnndameeeennnte ridícula! Depois, lá dentro da cadeia, eu refletia, não? Eu disse, puxa! O meu espanto da prisão, era um espanto de classe social. Eu encontrei camponeses presos que não tinham espanto nenhum, nenhum. Porque prisão pra ele é óbvio, faz parte da vida de espoliado que ele é. Então, eu aprendi muito, e não cabe aqui fazer descrição dos meus aprendizados, mas eu aprendi muito. E eu até diria a vocês, que foi este aprendizado da cadeia, que em muito aspecto, me preparou para a vida a fora do Brasil.
É minha homenagem aos Professores, Professoras formais e informais que cuidam de Educar.



O SOM

>Paulo Freire: O andarilho da Utopia< é um CD de 74 minutos, dividido em cinco blocos em forma de programas de rádio, (produzido em parceria com a Universidade de São Paulo e a Rádio Nederland - Holanda). Da segunda metade da década de 40 à morte de Paulo Freire em 1997, este CD retrata não apenas a vida do educador brasileiro: trata-se de um documento radiofônico que retrata o Brasil dos últimos 50 anos.
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7 comentários:

Jens disse...

Oi Vais.
Os meganhas eram truculentos, mas não totalmente burros. Sabiam, por exemplo, que a educação pode ser revolucionária quando se dispõe a revelar ao explorados que a pobreza não é inexorável e o destino pode ser alterado. Quer arma mais perigosa do que essa, o conhecimento?
Beijim.

Moacy Cirne disse...

O golpe militar de 64 foi um Câncer dentro da política brasileira. Paulo Freire e outros grande brasileiros foram atingidos em cheio. Lembrá-lo é sempre oportuno. Um abraço.

o refúgio disse...

Vais, linda e sempre querida,

É sempre bom lembrar Paulo Freire. Um grande homem, um grande educador que nos deixou uma grande lição: educar para a vida.

Beijos (sou tua fã!).

Esther disse...

Lembro-me desse dia, embora pequena... Meus pais chegaram cedo em casa e foram buscar-me na escolinha - eu só os via à noite, foi uma grande "alegria"...
O conhecimento é o maior ato revolucionário do qual dispomos.Parabéns pela postagem.
Beijo.

Ane Brasil disse...

como diria Mano Brown, do racionais MC: "papel e caneta é a arma mais perigosa na mão de um favelado"
E os milicos sabiam disso, que de todo burros não eram!
sorte e saúde pra todos!

Vais disse...

Olás Jens, Moacy, Sandrinha, Cris e Ane, é sempre bom de ver vocês por aqui.
Este cd é uma preciosidade, a cópia que tenho tem uma história, ela é pirata e fazia parte do acervo da Santê.
São umas lembranças das porretas.
Beijos pra vocês e aproveitem o fim de semana.

Marcelo F. Carvalho disse...

Vais, linda história do professor-maior Paulo! Acho que o grande problema dos tempos da mordaça era a pura e simples imbecilidade... Esse pessoal não entendia nada além da ordem unida.
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Como escreveu Guimarães Rosa: "professor não é quem ensina, mas quem, de repente, aprende." E estamos todos, a cada dias, descobrindo mais um pouco.
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Abraço forte!

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