sábado, 29 de novembro de 2014

A tormenta que se tornou



A vontade é ir preenchendo as tantas linhas vazias com toda manifestação das emoções que se dão, afloram e transpiram, ocupando de rabiscos, traços, riscos, desenhos, palavras. Levar (trazer) pra caxanga, o quê com certeza alguém ia de achar chato, talvez até eu mesma nem aguentaria. Já registrei que escrever não alivia, em cartório com firma reconhecida, tudo cobrado, inclusive a respiração. Final de ano faz descer a baba do pessimismo, que nem cadela zangada. Porém nada disso não é bom, o trânsito fica congestionado pelas negativas e as energias de luz quase não passam. Sistema infeliz, opressor. Não existe salvação dos quê nem dos quem, que dirá dos quais. A religião/igrejas deviam falar isso. Será que é querer demais? Porque não passam de mais uma prisão em nossa mísera existência, e o Marx, a muitos muitos anos atrás escreveu, bem constatou:

“Para a Crítica da Filosofia do Direito de Hegel
Karl MARX
I N T R O D U Ç Ã O:

 (...) A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração e a alma de situações sem alma.(...)

A abolição da religião enquanto felicidade ilusória dos homens é a exigência da sua felicidade real. O apelo para que abandonem as ilusões a respeito da sua condição é o apelo para abandonarem uma condição que precisa de ilusões. A crítica da religião é, pois, o germe da crítica do vale de lágrimas, do qual a religião é a auréola
A crítica arrancou as flores imaginárias dos grilhões, não para que o homem os suporte sem fantasias ou consolo, mas para que lance fora os grilhões e a flor viva brote. A crítica da religião liberta o homem da ilusão, de modo que pense, atue e configure a sua realidade como homem que perdeu as ilusões e reconquistou a razão, a fim de que ele gire em torno de si mesmo e, assim, em volta do seu verdadeiro sol. A religião é apenas o sol ilusório que gira em volta do homem enquanto ele não circula em torno de si mesmo.(...)”


Final de ano me serve para achar uns artigos que só mesmo nesta época – é o mercado, meu grande amor! Ele é o Senhor maior e não o deixe ficar nervoso, sua ira pode ser fatal!
Adquiri uns enfeites, desses de colocar nas árvores tipo pinheiro ou em quaisquer uma mesmo, borboletas brilhantes variadas, anjinhas feitas de pedacinho de fita colorida. Preguei pendurei na parede do quarto das meninas fofas Liz, bem em cima da cabeceira, pra proteger e atrair umas energias melhores das que emanam da minha pessoa por este tempo. Como diz uma chegada, ‘o baguio é tóchico’, o bicho pega e é brabo.
Aí no final a gente se abraça e ri um riso meio louco ou meio mané e tá valendo, porque como dizia um mui querido amado, ‘ é assim mesmo, vais.’



Um Som!!!!!!


Marvin Gaye 'Where are we going?

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

do plano de fundo



Pronunciei: estou com saudades de você. Oh, que lindo do sorriso! A janela de madeira antiga foi fechada, uma grade (bonita?) de ferros trabalhados cimentada. Ninguém sai ninguém entra. Só pássaros, borboletas, insetos, e vento e poeira, raios de sol de lua, pingos de chuva. Palavras penetram pela grade pelas frestas, cantadas, gritadas, sussurradas, faladas. Também passa um braço levando a mão, e o toque... quem sabe?

*


Em um quarto qualquer... quem se importa? Quatro paredes, duas janelas, um teto um piso, uma porta. Vértices, arestas, ângulos retos, diagonais. Um trabalho: calcule a altura, o perímetro, mostre o resultado. Pintura gasta, buracos no reboco, quatro ou cinco tacos soltos, retângulo velho de rodapé carcomido. Ah! Porém, uma cama, um criado, uma cadeira, nenhum cabideiro, nenhuma cortina, um jarro, dois copos, dois corpos na penumbra da lâmpada queimada se deixam...

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Um Som!!!!!!!!!!!!!!!!!


Neil Young - "Like A Hurricane" Lyrics (HD)


domingo, 23 de novembro de 2014

Por esses dias e antes



O verbo: palavra. Avesso. O direito traço furado. O esquerdo movimenta. Emoção. Razão. O verbo, a palavra, na mão, chão de pisadas, pegadas. Uma a uma. Até que tudo, o silêncio ou o ponto.

*

Bom dia! Assim sempre era o começo: eu te abraço nesta manhã, e no abraço, no tempo que está, dois corações se tocam. Está lembrada daquele triálogo que travávamos? Nossas pessoas prontas, a faca, o queijo e as lôcas: tese, antítese, síntese.

*

Então, é um domingo, 23 de novembro de 2014, quando pegou a agenda e se sentou na cama para tentar uma vez mais o mesmo exercício. Abriu a página e já não era mais este tempo, 13 de fevereiro de 2010 em branco, mas no canto a lembrança de que em 1922, ‘primeira semana de arte moderna...’
Todos os sentidos buscavam nos dias o tesão da existência. De olhos fechados, cega sentia em cada poro o cheiro ao tocar uma mecha solta, lentamente movia a cabeça e o corpo se enchia do calor. Ao abrir os olhos: asfalto, prédios, casas, estabelecimentos, céu, pessoas... pela janela passando paisagem urbana.

*

Queria te ver. Te sorrir. Te contar. Queria te pegar. Te tocar. Tato e antebraço. Te ter em cada detalhe do olhar. Te pregar nos olhos. Queria sim. 

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Um Som!!!!!!


Freedom by Anthony Hamilton & Elayna Boynton




quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

é o lance

torna-se puro
puro veneno
o céu é azul e lá em cima minha mão não toca
um bicho
bicho
nada mais
imensas e muitas vezes
então uma diferença crucial
pra que heim??
são elas
esses cabos de guarda-chuvas invertidos e um pingo caído molhado
torna-se chato
é a diferença
meu caro
o ataque dos fatos
ao visitar cadeias e manicômios
prisões gradeadas e ver lá
amontoados dedos
- lembro José e os cérebros nas pontas dos dedos –
torna-se crente
não de igrejas
crê na vida
uma alma perdida
coitada dela
dá bandeira de presente
e que linda ao vento
torna-se

(12/13)


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O SOMMM!!!!!!!!!!!

Ylvis - Someone Like Me

domingo, 22 de setembro de 2013

ao sabor

do que passou:

Junho/2013

escrevi e pintei esta camiseta para o Assis.


















Presente paisagem que me corre
Faço desta lembrança a tatuagem primeira do que foi
Espaço das palavras
O sentir sertão nas flores da seca
Ave piando na imensidão
Possibilidades da maresia soprada
Volto ao que foi
E não há sol mais escaldante que contenha um arrepio
Cabelo ao vento da poeira
E a terra, o chão
Quente que arde
O corpo ergue o orvalho
E algo é proibido
Mistérios, veja você
Algo tão (ir)real
Tão concreto
Efêmero
Mas fica marcada ali na curva das nuvens
Tangente do abismo, um mar de ar

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Julho/2013

Sexta-feira, 5 de Julho de 2013

diário do verão para certezas avulsas e breves singularidades

pernoitas em mim
e se por acaso te toco a memória... amas
ou finges morrer.

Al Berto, O Medo
desço
por dentro e a prumo a cada
incêndio do sangue,
do próprio deus,
a embebedar o vento no rosto
enquanto fugimos daquele
verão:

o tempo das certezas sem interrogação
a arder na claridade como
ondas invisíveis,
o querer altivo de figurações
e poemas completos:

foi o estio dos homens
grito e silêncio na generosidade dos corpos
por não poderes fugir do que não alcanças,
verão sem rosto
a dissolver frutos vermelhos dentro de ti
lentamente e sem embaraço
seguro de que as asas do voo cicatrizariam
feridas e tempo:

eu era o mistério a habitar-te as mãos,
eu, da cor dos teus olhos,
da terra húmida e do frescor que não se esquece,
eu tinha fé no tempo nas imagens e nos símbolos;
tu, apenas desejavas rosas
mas temias o vento que nada faz mexer:

o verão passou
e a boca, sentada no peito moribundo,
mordeu o silêncio branco do ar
atirado ao chão,
nenhum de nós o ousou respirar
e tu morreste
e eu morri:

regressámos aonde nunca estivemos
acreditando ter vencido o tempo das palavras
sobretudo o tempo sem palavras:

hoje,
é julho,
o mercúrio aquece a pele
e a vida inteira é mais longa do que
as sombras de abrigo:

ao regressarmos à gaveta do tempo
teremos esquecido a rota dos pássaros
e a leve alegria dos lábios
lentamente
como quem procura o outro no espelho
mas somente se encontra a si:

hoje,
é julho
e continuamos à espera da imagem do verão
e do reflexo de cada um dos seus incêndios.

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Julho/2013
coloquei o que vai no feici búqui

41 – HERACLITISMO 
Toda a felicidade na terra
Amigos, está na luta!
Sim, para tornar-se amigo
É necessária a fumaça da poeira!
Em três casos os amigos estão unidos:
Irmãos diante da miséria,
Iguais diante do inimigo,
Livres – diante da morte!
(Nietzsche – A Gaia Ciência)

Um fragmento. Nos conhecemos em 2000 na Praça 7 fazendo agitação, era o fechamento da Rádio Comunitária Santê FM 102.5 e a disputa de segundo turno para prefeitura de Belo Horizonte. Eu fazia parte do coletivo da rádio, tínhamos nossa barraquinha montada na praça para arrecadar assinaturas contra o fechamento e a CUT montou barraca ao lado da nossa, com som, microfones em apoio ao candidato Célio de Castro. Aí o troço ficou bom, rádio ao vivo direto da praça. Através do Jackson que conseguiu com o amigo e companheiro, camarada Valdisnei do Sind-Saúde, combativo sindicato filiado à CUT e contribuidor financeiro da rádio, para que nossa barraca ficasse guardada lá no Sindicato. E o Valdisnei ia pra praça.

Dia 09/07/2013, lá se foi o corpo do Valdisnei, morreu, faleceu, desencarnou. Ele, amigo, companheiro, camarada, incorruptível, meu namorado, amante, marido e pai de duas barrigas minhas, nossas meninas fofas Liz. Uma honra e um puta orgulho ter feito parte da sua história.

Vou, sem o extremo drama, apenas a busca dos dias vividos, viventes, de toda ideia, realidade da matéria em cada tempo que houver... a vontade, o desejo pulsante, os delírios e as doideiras, a louca lucidez.
♥♥♥♥♥♥♥♥♥
bonequinho do nosso querido e amado Valdis, arte da Juninha Liz, irmã da Eleninha Liz, nossas filhotas fofas Liz. ♥♥♥♥

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Tenho um gosto muito especial por esta página.

SAUDAÇÕES EM TODAS AS LÍNGUAS E GESTOS!!!!!!!


quinta-feira, 6 de junho de 2013

Para um dia


Macambúzia e sorumbática, uma guitarra, um blues, leve levanta, um unguento.

 

BB King e Stevie Wonder - The Thrill Is Gone





As estrelas caem como flocos de neve
Caem
Derretem em corpos quentes da noite
Negros na plantação catam bolinhas brancas
Longe, afastados   
De uma fome à outra
Vindos do sol,
Compõem lamentos azuis


sábado, 1 de junho de 2013

Bor cos pin dados turas turas


Se Aninha falasse comigo... Mas não há que renda assunto entre meio aquela tira bordada de pontos pontos pontos no tecido preso pelos aros de madeira.
Minha face furada furada furada preenchida por pontos pontos pontos aqui e ali cruz cruz cruz fura reta – semi – volta cruza viés na beirada para acabamento arremate nó nó nó nós um cruzado uma ponte a ponta erra e finca a carne uma gota para compor o batom da boca a língua molhada junta os fiapos da linha vermelha que enfiada no orifício da agulha fura fura fura vai volta vai voltar contornando e enchendo o molde a figura no tecido minha cara.

As mãos de tinta nas paredes pequenas marcas dedos asas um pássaro formado corpo de dedões avançam pelo teto de Pê Vê Cê sombras plastificadas vivas no branco cinza saem fênix e eu tonta de tanto pensado em todos os motivos que me levam e mais me vem quando em pé de luvas nas mãos nas beiradas do tanque da pia não as descalço para pegar na pena se fosse há muito muitos anos passados e molhar a ponta na tinta e... vem também uma variedade quando o corpo horizontal de costas tocando a superfície mira todo de frente o teto quase sempre um tudo hoje ontem trestrestresantonte o amanhã a manhã e depois e depois quando cruzo com as velhinhas pelas ruas – ficarei assim? – poderia ser assado – o peru morreu já faz muito tempo anos mesmo por causa da prova naquela gincana lá na pequena cidade onde pediram um peru branco e tão inocentes asfixiaram o peru cinza com tinta a óleo branca. Ganharam os pontos o peru morreu e não era natal. Trem mais doido lembrar disto e não era pra menos pois escrito pela criança com tinta vermelha escrita de criança na parede externa a do terreiro a morte do peru e coberto pela mesma menina com tinta preta pelo incômodo de todos os dias bater os olhos na lembrança e por cima do preto o pintor que nada sabia passou o rolinho molhado de verde – tá vendo duas demão tampa tudo!


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O Som!!!!!!!

Rage Against the Machine - Wake up 

A tormenta que se tornou

A vontade é ir preenchendo as tantas linhas vazias com toda manifestação das emoções que se dão, afloram e transpiram, ocupando de rab...