Estava parada no ponto. Esperava o ônibus passar. Olhei para o
lado e vi o rapaz que vinha. Ele usava uma bolsa a tiracolo na altura do
estômago com muitos papéis, que ia tirando e entregando aos passantes. O rapaz
vinha de óculos escuros e tateava o chão com sua bengala, pegando um papel e
dando... Reparei as pessoas que pegavam, ela liam e voltavam os olhos, primeiro
para o moço que ia, depois olhavam para o chão. Quando chegou mais perto, andei
até ele e peguei um dos papéis. Li.
Fui atrás dele e perguntei:
_ Ei, olá, posso te ajudar a distribuir?
_ Ei, olá, sim, claro que pode! Disse ele me passando um tanto e
perguntou se eu queria mais.
_ Não, tudo bem, aqui dá, vou guardar alguns para copiar. Então
tá, boas distribuídas pra você e tudo de bom.
_ Tá bom, tchau então, tudo de bom pra você também e obrigado.
Saí distribuindo os papéis, mas fiquei com quatro para montar
uma página. Quando terminei vi meu ônibus chegando, dei sinal e entrei.
quarta-feira, 27 de março de 2013
hoje pulei uma esperança ela estava deitada não pisei na esperança ela estava morta
passou a não sentir mais nada, nem ódio nem amor.
passou a respirar distante como em constante partida.
mirava o sol nascer, mirava o sol se por, e nada mais lhe dizia algo.
_ você não vai banhar-se?
escutava e nada respondia.
"será que enlouqueceu?"
não ria nem chorava.
passou a comer por questões fisiológicas e a dormir pelas mesmas questões.
ia se lavar pelo contato com a água.
se deixava ao ar quando ventava.
catava pedras no terreno e as jogava ao tempo para enxergá-las cair aqui, ali, aos seus pés.
depois sentava na grande pedra com uma caixa de fósforos e riscava um a um, fitava-os queimar hipnotizada.
não lia mais, nem via nem ouvia ou escrevia, passou também a não falar.
saía a andar pelas ruas, um pé à frente do outro e sempre voltava.
quiseram que fosse consultar especialistas.
mas quando tocaram em seu braço, seus olhos se voltaram, moveram do toque aos olhos do tocante.
para o tocante, o choque e o espanto foram tamanhos que as mãos se soltaram ao deparar com aquele olhar onde se espelhava o vazio da imensidão orbitando.
E
todo estranhamento me chega, exala pelos poros, diante do espelho, diante dos
olhos, pelas entranhas.
De
que nos vale toda a destruição diária (em todas as dimensões da vida)
De
que nos vale toda a miséria, toda a pobreza e toda a pobreza recheada e coberta
de bens
De
que nos vale todo o massacre cotidiano
Quem
são os puros
Quem
são os santos
Quem
são os perfeitos
Qual
a nossa ‘deixa’ neste imenso palco
Muitos
e muitas já se consideram salv@s, salv@s de que
Da
imperfeição, da lama, do esgoto, da decadência
Muitos
e muitas se colocam pairando acima dos mundanos pecadores e pecadoras
E
mesmo diante de todo este estranhamento já sei onde encontrar o que faz meu
espírito, minha alma, minha essência, meu coração, minha mente, ou coisa que o
valha, ser mais livre.
Muitos
seres vivos, e todas as circunstâncias que envolvem o ato de alimentar,
alimentam para se manterem vivos, colocam a comida pra dentro, seja ela qual
for e o estado em que ela, a comida, se encontra.
Assim
é conosco, nós, seres humanos, seres da única raça humana.
A
comida entra.
O
organismo faz o trabalho de absorção do que entra.
Então
o ‘bagaço’ vai para os intestinos, vira o cocô, a bosta, as fezes, a merda fica
guardada em nós, armazenada até que resolvemos defecar, cagar ou ir fazer um
cocô, ou como dizia minha vó, obrar.
É
isto que tod@s nós seres humanos, sem exceção, sem distinção, independente do
caráter, do gosto, do gênero e por aí vai, fazemos, comemos e cagamos,
defecamos, fazemos cocô ou obramos.
Mas,
é aí que vem a grande e crucial diferença:
A
partir de determinado momento passei a querer, desejar muito e defender umas bostas e são estas que me servem um
excelente adubo, um maravilhoso fertilizante, o alimento para crescimento e
florescimento dos meus sonhos, dos meus maiores delírios e quereres. Enquanto que
as outras merdas matam tudo pela raiz, estas eu rejeito, são nocivas, venenosas.
Aqui
presente: socialistas, comunistas, anarquistas, libertários, lutadoras e
lutadores do povo que empunham as bandeiras com alegria, honra, força e garra
contra a opressão, contra a dominação, contra todas as desgraças geradas pelo
capetalismodusquintodusinfernos, contra os dogmas que tanto embotam o
discernimento e que tanto destroem o que há de mais belo.