domingo, 31 de março de 2013

1/4 de página



Estava parada no ponto. Esperava o ônibus passar. Olhei para o lado e vi o rapaz que vinha. Ele usava uma bolsa a tiracolo na altura do estômago com muitos papéis, que ia tirando e entregando aos passantes. O rapaz vinha de óculos escuros e tateava o chão com sua bengala, pegando um papel e dando... Reparei as pessoas que pegavam, ela liam e voltavam os olhos, primeiro para o moço que ia, depois olhavam para o chão. Quando chegou mais perto, andei até ele e peguei um dos papéis. Li.
 Fui atrás dele e perguntei:
_ Ei, olá, posso te ajudar a distribuir?
_ Ei, olá, sim, claro que pode! Disse ele me passando um tanto e perguntou se eu queria mais.
_ Não, tudo bem, aqui dá, vou guardar alguns para copiar. Então tá, boas distribuídas pra você e tudo de bom.
_ Tá bom, tchau então, tudo de bom pra você também e obrigado.
Saí distribuindo os papéis, mas fiquei com quatro para montar uma página. Quando terminei vi meu ônibus chegando, dei sinal e entrei.

quarta-feira, 27 de março de 2013

hoje pulei uma esperança
ela estava deitada
não pisei na esperança
ela estava morta

sexta-feira, 15 de março de 2013

foi assim

para  Assis Freitas

Magritte                                                                                          imagem: net



passou a não sentir mais nada, nem ódio nem amor.
passou a respirar distante como em constante partida.
mirava o sol nascer, mirava o sol se por, e nada mais lhe dizia algo.
_ você não vai banhar-se?
escutava e nada respondia.
"será que enlouqueceu?"
não ria nem chorava.
passou a comer por questões fisiológicas e a dormir pelas mesmas questões.
ia se lavar pelo contato com a água.
se deixava ao ar quando ventava.
catava pedras no terreno e as jogava ao tempo para enxergá-las cair aqui, ali, aos seus pés.
depois sentava na grande pedra com uma caixa de fósforos e riscava um a um, fitava-os queimar hipnotizada.
não lia mais, nem via nem ouvia ou escrevia, passou também a não falar.
saía a andar pelas ruas, um pé à frente do outro e sempre voltava.
quiseram que fosse consultar especialistas.
mas quando tocaram em seu braço, seus olhos se voltaram, moveram do toque aos olhos do tocante.
para o tocante, o choque e o espanto foram tamanhos que as mãos se soltaram ao deparar com aquele olhar onde se espelhava o vazio da imensidão orbitando.


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UM SOM!!!!

Supercordas- 3.000 folhas


quarta-feira, 6 de março de 2013

Num calor supitante



E todo estranhamento me chega, exala pelos poros, diante do espelho, diante dos olhos, pelas entranhas.
De que nos vale toda a destruição diária (em todas as dimensões da vida)
De que nos vale toda a miséria, toda a pobreza e toda a pobreza recheada e coberta de bens
De que nos vale todo o massacre cotidiano
Quem são os puros
Quem são os santos
Quem são os perfeitos
Qual a nossa ‘deixa’ neste imenso palco
Muitos e muitas já se consideram salv@s, salv@s de que
Da imperfeição, da lama, do esgoto, da decadência
Muitos e muitas se colocam pairando acima dos mundanos pecadores e pecadoras
E mesmo diante de todo este estranhamento já sei onde encontrar o que faz meu espírito, minha alma, minha essência, meu coração, minha mente, ou coisa que o valha, ser mais livre.

Muitos seres vivos, e todas as circunstâncias que envolvem o ato de alimentar, alimentam para se manterem vivos, colocam a comida pra dentro, seja ela qual for e o estado em que ela, a comida, se encontra.
Assim é conosco, nós, seres humanos, seres da única raça humana.
A comida entra.
O organismo faz o trabalho de absorção do que entra.
Então o ‘bagaço’ vai para os intestinos, vira o cocô, a bosta, as fezes, a merda fica guardada em nós, armazenada até que resolvemos defecar, cagar ou ir fazer um cocô, ou como dizia minha vó, obrar.
É isto que tod@s nós seres humanos, sem exceção, sem distinção, independente do caráter, do gosto, do gênero e por aí vai, fazemos, comemos e cagamos, defecamos, fazemos cocô ou obramos.
Mas, é aí que vem a grande e crucial diferença:
A partir de determinado momento passei a querer, desejar muito e defender  umas bostas e são estas que me servem um excelente adubo, um maravilhoso fertilizante, o alimento para crescimento e florescimento dos meus sonhos, dos meus maiores delírios e quereres. Enquanto que as outras merdas matam tudo pela raiz, estas eu rejeito, são nocivas, venenosas.

Aqui presente: socialistas, comunistas, anarquistas, libertários, lutadoras e lutadores do povo que empunham as bandeiras com alegria, honra, força e garra contra a opressão, contra a dominação, contra todas as desgraças geradas pelo capetalismodusquintodusinfernos, contra os dogmas que tanto embotam o discernimento e que tanto destroem o que há de mais belo.
(FEV/2013)



O Som!!!!!!!!!!!
Saiba – Adriana Calcanhotto

A tormenta que se tornou

A vontade é ir preenchendo as tantas linhas vazias com toda manifestação das emoções que se dão, afloram e transpiram, ocupando de rab...