terça-feira, 12 de junho de 2012

Fernanda Passos


Duas poesias dela, que trouxe do poesianaveia.


Sou vida

Carrego no peito um coração que pulsa e uma esponja que suga o mundo.
Sou celeiro dos pedaços colhidos ao longo das trilhas percorridas

: fruto das escolhas feitas na bruta certeza de estar aqui.

Por vezes, sou os fragmentos juntados.

Só assim existo.

Despedacei-me tantas vezes fossem necessárias e tantas outras erigi o molde mim.
Fui correnteza bravia arrastando anseios guardados em ermos espaços

: meu e de outros.

Também laguna,
quase isso e aquilo.

Agridoce, já fui.

Ave faminta em jardins de esperanças, suguei o néctar de cada flor para nutrir ilusões.
Experimentei misturas que brotam no seio vida.

Fui vida.

E porque ousei ser e não ser

[negando a homogeneidade de meus contornos]

suplantei vicissitudes.

Hoje sou paiol.

Pulsante, sorvo a concretude liquefeita,
absorvo e regurgito ais, alegrias.

Sou vida.


(Fernanda Passos)



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Densidade Poética


I

Sou densa - mercúrio
peso de anseios
carmim/visceral
passional/efêmera

Brisa a bailar
noturna/soturna
lua cheia de tudo
fase qualquer

Fractal ordenado
caótica massa
liquidez meu interior
que
: decantado
canta
a arte
na poesia
que brota
brota

II

E faço versos
enredos/descaminhos
desconexos/lógicos

na poesia
todo desordenado
ordenada desordem
mostra do sentir
absurdo/claro
ambíguo/metafórico

na poesia, amigo
só a verve

[que irradia na ponta da língua/fantasia]

transmutada em loucura/sã
no grito do poeta.

(Fernanda Passos)



2 comentários:

Unknown disse...

viscerais,



beijo

Jorge Pimenta disse...

"E faço versos
enredos/descaminhos
desconexos/lógicos"

e a poesia desprende-se do conceito para ser, ela mesma, aquele que nomeia e o nomeado.

beijinho, vais!

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