mas como não posso fazê-lo, que ele não me deturpe.
♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥
Mário
Quintana - Canção do fundo do tempo(trecho final)
(...)
Longe
andava o meu olhar.Longe andava...
Por trás dos muros do tempo,
As pessoas que eu amava
Amaram-se entre si.
Um Som!!!!!
Ten Years After - I'd Love To Change The World
Ficava parada, sempre naquela mesma
esquina, naquele mesmo horário, pelas mesmas horas, a esperar, sem o tédio das
esperas.
Dia ou outro, vez ou outra, algum
inédito, mas sempre os mesmos, as mesmas pessoas.
Se habituaram da minha presença, se
acostumaram a me ver em pé escorada na aresta, ou sentada no meio fio vendo os
automóveis passando, depois de esperarem sua vez.
Não me viam mais como uma estranha ao
abraçar o poste da placa PARE.
Foi assim por anos.
Nos vimos envelhecer, as rugas, os
cabelos brancos,...
Outros não mais vieram e sabia de suas
mortes, suas mudanças quando, encostada ou sentada ou abraçada, ouvia as
conversas dos que esperavam a travessia ou o seguimento após as despedidas.
Os cachorros cheiravam meus pés,
minhas pernas sem receios, os gatos se vinham e pouco se enroscavam em meus
tornozelos, os pardais e as rolinhas bicavam restos por ali.
Porém, um dia, sempre tem o porém de
um dia, não fui mais àquela esquina, não fiquei mais escorada na aresta nem
sentada no meio fio nem abraçada ao poste, não mais me viram e não os vi mais.
Quando não mais me viram se
perguntavam e deram de conversar entre si, coisa que até então não se via entre
estranhos naquela esquina, mesmo sendo os mesmos e as mesmas de sempre e algum
inédito dia ou outro, vez ou outra.
_ Será que ela morreu?
_ Será que se mudou?
_ Será que finalmente veio quem ela
esperava?
_ O que ela esperava?
_ Quem ela esperava?
_ Por que nunca trocamos uma palavra
com ela?
_ Mas, ela também nunca nos
cumprimentou, nunca trocou uma palavra?
_ O que terá acontecido?
Até aquele morador da praça que a tudo
via o que se passava naquela esquina, foram lhe dirigir a palavra, mas ele só
olhava e balançava a cabeça.
Neste dia em que não mais apareci, o
tal morador foi ao jardim da praça e pegou uma muda, um broto, com as mãos
pegou a terra e encheu um balde velho e rachado que achou jogado no lixo e
plantou a muda e aguou e levou até à esquina deixando lá.
Os mesmos e as mesmas viram aquilo,
parados, olhando.
No outro dia a falta de minha presença
já não era tanta, pois havia ali no lugar um ‘vaso’, é certo que ele não
escorava, não sentava nem abraçava, mas havia ali naquele balde velho e
rachado, vida que crescia, vida que daria flores, e que, quem sabe frutos? Mas
isto eles não sabiam, teriam que esperar pra ver.
E aquelas mesmas e aqueles mesmos se
incumbiram de cuidar daquele broto, e sempre que por ali passavam, passaram a dedicar um
aceno, uma água, um cumprimento, um fertilizante, um carinho à vida que
crescia.
6 comentários:
Manuel António Pina disse numa entrevista que quando era adolescente pensava que ia mudar o mundo, hoje apenas quer que o mundo não o mude a ele.
[e eu estou com ele]
beijinho
Saudações, querida Laura
deveras
por isto faço um acréscimo:)
beijos pra ti
nem sempre o que se vê floresce no olhar, há coisas que germinam na imensidão invisível,
beijo
p.s. eu nunca pensei em mudar o mundo, na minha ignorância quero do mundo uma distancia necessária para a existência.
vais, minha querida,
no mundo, todas as promessas de afeto começam por ser de terceira pessoa do plural, mas acabam na primeira... do singular. por isso entendo o incipit que aqui postas, como rampa de lançamento para a tua reflexão: "as pessoas que eu amava / amaram-se entre si".
afinal, toda a eternidade é apenas uma etapa na linha do tempo. maldição!
"nada te pertence,
tudo é de tudo o que passa"
jordi virallonga
beijo com os braços do tamanho deste atlântico que não esconde segredos entre aqueles que se querem bem!
Voei em teu lirismo...
Amei.
Bjo, bjo!!!
Mudo mundo em si!
Postar um comentário