Solidão
Júlia quer ter filho
e não consegue.
Ela nunca chora,
nem às escondidas.
Júlia quer ter filho,
mas está sempre com raiva
e nunca fala.
Sua madrasta anda dizendo
que Júlia quer ter filho
somente pela vaidade.
O que Júlia tem e não coloca pra fora,
está se transformando em pedra.
Há dias
em que fica demasiadamente fria
noutros,
extremamente quente.
Então a semente não resiste
e morre!
Vamos bater palmas,
vamos bater tambor,
vamos fazer os demônios de Júlia
se manifestarem,
e depois colocá-los pra correr.
Vamos ensinar Júlia rir
de seus demônios.
Vamos ajudá-la a dar vassouradas
em seus demônios.
Vamos ajudar Júlia
a parir.
**************
Dona doida
Sentada à beira mar,
perdendo o sentido.
O real cai,
pensamento se estilhaça.
Alguém passa e pensa:
ela não conseguirá
retornar a seu estado
normal.
E qual estado normal?
A senhora retoma-se.
De cócoras
vai montando estilhaços em série.
Faz uma reza que aos olhos
da modernidade soa
como um dialeto qualquer.
Olha pro céu
de cara alegre.
E segue seu caminho
cantando:
a verdade me libertará.
************** em homenagem ao 08 de março de 2008 fiz uma postagem com outra poesia dela. Aqui. *************
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