segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Frei Betto

Buenas!

Tenho uma admiração pelo Frei Betto, por tudo que li e venho lendo dele.
Ele escreve na Revista Caros Amigos, na edição deste mês, como sempre vale conferir, não só o Frei Betto, com seu texto A caverna de Platão, mas toda a Revista.
Tenho prazer de postar neste canto de caxanga este texto que vai, trazido daqui:


20 DE OUTUBRO DE 2007 - 11h10
Frei Betto: "Como endireitar um esquerdista"

Ser de esquerda é, desde que essa classificação surgiu na Revolução Francesa, optar pelos pobres, indignar-se frente à exclusão social, inconformar-se com toda forma de injustiça ou, como dizia Bobbio, considerar aberração a desigualdade social. Por Frei Betto

Ser de direita é tolerar injustiças, considerar os imperativos do mercado acima dos direitos humanos, encarar a pobreza como nódoa incurável, julgar que existem pessoas e povos intrinsecamente superiores a outros.
Ser esquerdista - patologia diagnosticada por Lênin como "doença infantil do comunismo" - é ficar contra o poder burguês até fazer parte dele. O esquerdista é um fundamentalista em causa própria.
Encarna todos os esquemas religiosos próprios dos fundamentalistas da fé. Enche a boca de dogmas e venera um líder. Se o líder espirra, ele aplaude; se chora, ele entristece; se muda de opinião, ele rapidinho analisa a conjuntura para tentar demonstrar que na atual correlação de forças...
O esquerdista adora as categorias acadêmicas da esquerda, mas iguala-se ao general Figueiredo num ponto: não suporta cheiro de povo. Para ele, povo é aquele substantivo abstrato que só lhe parece concreto na hora de cabalar votos. Então o esquerdista se acerca dos pobres, não preocupado com a situação deles, e sim com um único intuito: angariar votos para si e/ou sua corriola. Passadas as eleições, adeus trouxas, e até o próximo pleito!
Como o esquerdista não tem princípios, apenas interesses, nada mais fácil do que endireitá-lo. Dê-lhe um bom emprego. Não pode ser trabalho, isso que obriga o comum dos mortais a ganhar o pão com sangue, suor e lágrimas. Tem que ser um desses empregos que pagam bom salário e concedem mais direitos que exige deveres. Sobretudo se for no poder público. Pode ser também na iniciativa privada. O importante é que o esquerdista se sinta aquinhoado com um significativo aumento de sua renda pessoal.
Isso acontece quando ele é eleito ou nomeado para uma função pública ou assume cargo de chefia numa empresa particular. Imediatamente abaixa a guarda. Nem faz autocrítica. Simplesmente o cheiro do dinheiro, combinado com a função de poder, produz a imbatível alquimia capaz de virar a cabeça do mais retórico dos revolucionários.
Bom salário, função de chefia, mordomias, eis os ingredientes para inebriar o esquerdista em seu itinerário rumo à direita envergonhada - a que age como tal mas não se assume. Logo, o esquerdista muda de amizades e caprichos. Troca a cachaça pelo vinho importado, a cerveja pelo uísque escocês, o apartamento pelo condomínio fechado, as rodas de bar pelas recepções e festas suntuosas.
Se um companheiro dos velhos tempos o procura, ele despista, desconversa, delega o caso à secretária, e à boca pequena se queixa do "chato". Agora todos os seus passos são movidos, com precisão cirúrgica, rumo à escalada do poder. Adora conviver com gente importante, empresários, ricaços, latifundiários. Delicia-se com seus agrados e presentes. Sua maior desgraça seria voltar ao que era, desprovido de afagos e salamaleques, cidadão comum em luta pela sobrevivência.
Adeus ideais, utopias, sonhos! Viva o pragmatismo, a política de resultados, a cooptação, as maracutaias operadas com esperteza (embora ocorram acidentes de percurso. Neste caso, o esquerdista conta com o pronto socorro de seus pares: o silêncio obsequioso, o faz de conta de que nada houve, hoje foi você, amanhã pode ser eu...).
Lembrei-me dessa caracterização porque, dias atrás, encontrei num evento um antigo companheiro de movimentos populares, cúmplice na luta contra a ditadura. Perguntou se eu ainda mexia com essa "gente da periferia". E pontificou: "Que burrice a sua largar o governo. Lá você poderia fazer muito mais por esse povo."
Tive vontade de rir diante daquele companheiro que, outrora, faria um Che Guevara sentir-se um pequeno-burguês, tamanho o seu aguerrido fervor revolucionário. Contive-me, para não ser indelicado com aquela figura ridícula, cabelos engomados, trajes finos, sapatos de calçar anjos. Apenas respondi: "Tornei-me reacionário, fiel aos meus antigos princípios. E prefiro correr o risco de errar com os pobres do que ter a pretensão de acertar sem eles."


Avoz, ossom. O som da voz da voz da voz da voz.....



Janis Joplin
Mercedes Benz
Composição: Bob Neuwirth, Janis Joplin & Mike McClure






Oh Lord, won't you

Buy me a Mercedes Benz?

My friends all drive porsches

I must make amends

Worked hard all my life time

No help from my friends

So Lord, won't you

Buy me a Mercedes Benz?

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*************
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7 comentários:

Jens disse...

Oi Vais.
Oportuna a publicação do artigo do Frei Betto, considerando o tempo em que vivemos, quando muitos antigos companheiros decidiram combater o sistema "por dentro", isto é, aderiram. Deliciosamente envergonhados, tentam se justificar. Foi Vinicius quem disse que é difícil manter o ardor revolucionário depois dos 40? Pois é, em alguns casos - mais do que seria desejável - o scotch fala mais alto.
Um abraço e um beijo.

o refúgio disse...

Muito bom o texto, querida. Também gosto muito do Frei Betto. Mas realmente, tem muito esquerdista se endireitando por aí. Será que aquele homem de paletó e gravata era mais um deles? Espero que não...rsrs.
Ó, Mercedes Benz da Janis complementou maravilhosamente bem esta postagem. Tenho esse disco, "Pearl", não é? ?ADORO!

Beijão.

Marcelo F. Carvalho disse...

Frei Betto e Janis em sua Mercedes... Isso não é um post, é uma Ode! Adoro os dois... mais o que você escreve.
Abraço forte!

Roy Frenkiel disse...

This is a song with strong political import.!

hehe

bjx

RF

Fernanda Passos disse...

Li esse artigo do Frei Betto no domingo passado. Achei fantástico. Aliás, gosto do ele escreve. Em relação ao texto que vc publicou, as citações de Lênin foram precisas. Não dá pra confundir esquerdismo com ser de esquerda. E o texto tem endereço certo. Isso é o melhor.
;)
Beijos.

o refúgio disse...

Que fiasco, mais um pra variar (eita, que eu sou burrinha!)... Não li o texto com atenção e entendi tudo errado...

Vais disse...

Sabe simpático Jens,
considerando o tempo em que vivemos, muita coisa me causa uma estranheza, é como se as pessoas, depois de fazerem suas escolhas sejam levadas pela ideologia, religião(igreja), profissão, não pudessem fazer mais nada que não tivesse ligação direta e intrinseca com aquilo. É como se um padre não pudesse vestir um calção pra bater uma pelada. Eu bebo cachaça ahahahahah e gosto é de cachaça, e olha que tem umas que arrancam o côro, aiaiai o lombo! Pra mim este texto do Frei Betto fala mais de convicções, há quem consiga fingir aquilo que não é, até que apareça uma boa oportunidade pra dar as caras reais.

Sandrinha, é Pearl , não quis colocar a foto do disco, achei esta mais sacana, rs...
Desde quando comecei a ler o Frei Betto, me encantei com o lado consciente político dele, com a mudança do papa, de pouco tempo pra cá venho notando uma diferença no tom que ele tem usado nos artigos mais relacionados à religião, li um recente que fala sobre o aborto, olha, pra mim, excelente.

Marcelo e Roy, desde bem jovem escuto JJ, e tenho um gosto muito especial pela vida dela.

Olá Fernanda,
Foi depois de ler A caverna..., que resolvi postar este texto.
Abração.

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