terça-feira, 15 de março de 2011

HISTÓRIA MÁGICA - Mario Quintana

Era um perfume tão pesado que os corpos se amolentavam, rendidos, e uma névoa de banho de vapor esfumava o contorno das flores de pétalas abertas, dos frutos enormes, que pareciam prestes a cair. Não se sabia se eram cobras dormentes, ou lianas semi-vivas, aquelas coisas pendidas das galharias... Pássaros não se viam, nem sáurios furtivos, nem grandes ou pequenos quadrúpedes. Mas gritos misteriosos, que a gente não podia identificar, feriam de quando em quando os ouvidos, acordando-os do torpor em que os adormecia o zumbir ininterrupto dos insetos. Os pés chapinhavam, como em barro, no musgo verdoengo que tapetava o chão.Caminháva-mos, arquejávamos, sem dizer palavra. O nosso guia e rei seguia à frente, invisível, sua presença acusando-se (nas horas de maior angustia, parecia) por um agitar frenético de guizos. Um dia, não mais o escutamos e cada qual, com um ingrato alívio, seguiu seu próprio caminho. Cada qual se extraviou, sentou-se, enfim, para morrer.E cada um morria pensando invejosamente que os outros houvessem encontrado alguma coisa, uma fonte de virtudes nunca imaginadas, uma princesa, um mágico, algum Deus ainda bárbaro ou no seu mais adiantado estágio, mas sempre um Deus, mas sempre alguma coisa. Pensava em tudo isto, sim... e sentia, no entanto, um monstruoso orgulho de morrer sozinho...
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Eu numa Agenda de 1996

Não riam de mim só porque escrevo. Venho a querer coisas...
Não se sabe quem mais esquisito:
Coisas que espantam, trem que volta, negócios que aparecem.
Sherlock Holmes.
Se ir é progressivo, voltar nem sempre indica regresso(?).
A volta não é a volta em si. Ela vai e volta. Voltar e morrer. Tudo são maneiras...
Entenda:
A volta da vida na própria vida implica no morrer e viver, até mesmo voltar em única vida.
_ Meu caro, Watson! A volta...? Elementar!
(O redondo a girar no mistério do desconhecido)
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Recanto.
Tento achar uma explicação. É simples. A opção deixa a dúvida. Separavam-se!
Falando em neurônios. Ããããããã?
O comando obedece ao comando. A hierarquia das ações, o pensamento...
Giram em sentido anti-horário.
Lei:
Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço.
Usando a Terceira Lei de Newton:
Os fantasmas te perseguem, e vice-versa.
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As pessoas como pessoas inspiradoras. Os poemas plotaram noutros quadrantes, coloquial do espelho d’água. Um exemplo, falemos de coisa.
As nuvens ajustam-se ao olhar, às fantasias. As imagens aparecem e andam se contorcendo, formas disforme formas, novas formas surgem... formas...
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A freqüência do vento é dita pelo som. Penetrar e cair no mundo das paralelas – reflexo do infinito!
As casas moldam-se ao contorno.
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Delineio semânticas que expressem intencionalidades nos escritos que faço. São negativas, melancólicas, expoentes daquilo que sou. Embora talvez nem seja. De fato, crio mundos, percepções, confissões que não me traduzem ou sim. Não são auto-retratos ou são.
Nessa contradição permanente, esboço dicotomia, antinomia de mim. E por ser antagônica é que me faço ou não. Só existo na duplicidade proeminente que improvisa um mosaico, espelho de meu reflexo. Sou fractal. Pedaços que moldam esse todo compreendido somente enquanto tal.
Nacos de anseios, quereres, desilusões, alegrias e esse tudo-nada que me perfaz, complementam minha concretude. Substância errante perdida nos corpos fluídos das volições e angústias aconchegadas no colo escolhido para alentar a intensa profusão de ser.
Essas são expressões que germinam em momentos singulares, palavras jorradas da insana penúria de ambicionar e, muitas vezes, não poder objetivar subjetividades que, para outros, acabam não tendo significado.
Exponho-me a escrever porque nas letras encontro a matéria prima das caricaturas de alguém tão solta no mundo, que precisa se testar. E lego essas divagações ao efêmero ato de fazer daquilo que não é o que possa ser; do que possa ser o que não seja. Escrevo para transbordar esse eu dialético-dialógico transcendente e inesgotável. Sou não sendo.

18 comentários:

Unknown disse...

desde Quintana aos outros quintais ouve-se o ruído do verso,


beijo

Jens disse...

No Dia da Poesia, a prosa de Quintana. Proposital ou não, uma fuga criativa e apropriada do lugar comum.

Beijo, Feiticeira Vais.

Loba disse...

vc escolhe e a gente te vê nas letras escolhidas. mas as suas próprias são como setas indicativas: no ponto.
e como disse o poeta: em todas, o verso.
beijo, queridona

Vais disse...

:)Ei, Assis,
baixinho: tô ouvindo, tô ouvindo

beijinho

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Olá, Simpático,
Mário Quintana é um trem danado de bom, fico encantada.
E viva a poesia!
Vivam @s poetas!
beijo, querido

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Loba, moça dos uivos vermelhos, ahaha
Como eu não dou muita conta, me encontro nos outros, nas outras.
Me dá um qualquer coisa no corpo, de dentro pra fora, os arrepios começam lá no fundo e vão atravessando as camadas até eriçar os pêlos.

beijos prati

Janaina Cruz disse...

Um mar de belíssimos poemas: Quintana e Pessoa, um chamamento para nadarmos frente a ondas magníficas de brilho real e desejos, só me resta aplaudir...

Vais disse...

Ei, Janaina, saudações!
grata pela visita e palavras
Mário Quintana, gosto até, e a Fernanda tem um jeito de se expressar tocante.
beijos, querida

Anônimo disse...

passei por aqui para deixar um agradecimento pelos comentários no meu blog e para me deliciar com estas palavras!
Beijos
Laura

Vais disse...

Saudações, Laura!
seja bem vinda!
ô moça, sirva-se à vontade.
grata, também, e volte sempre que rolar.
beijinhos prati

Vais disse...

Venho por aqui mesmo, é que, um pedaço de mim anda assim:
Querendo escrever, e vou fazendo estes ajuntamentos de letras, sobre nenhum assunto, nem sentimentos, nem acontecimentos, nem das informações de tudo quanto há, nem inventar ou ver motivos para escrever os escritos...
(A caneta falhou, o grafite da lapiseira falhou, mas parou)
nem notícias dos mundos animal, vegetal e mineral, suas vidas, suas mortes, nem do fim desta escrita.
Mas meus olhos, meus eis e olás, continuarão pelas páginas, e minhas mãos, nesta, mexendo.

Beijos e carinhos vão
Inté mais

Lou Vilela disse...

Sobre idas e vindas, lembrei:

"E se um dia hei-de ser pó,cinza e nada / Que seja a minha noite uma alvorada, / Que me saiba perder... pra me encontrar..." (Florbela Espanca).

Lá no 14, o dia foi bom como desejaram os amigos. ;) Obrigada!

Beijos

o refúgio disse...

"faça o que tu queres pois é tudo da lei, da lei..." Raul Seixas
:)

Beijo carinhoso, querida

Vais disse...

Simplesmente, Lou, lindo!
"que seja a minha noite uma alvorada"
Ah, e na medida do (im)possível, feliz todos os dias pra ti
beijinhos

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Grande Raul!
Linda Sandrinha!
Beijo no coração, Dona Moça

Vais disse...

Gente querida
Volto- me ao que já foi, antes do pós partus, talvez florescer ou conversão.
Como se não bastasse um pedaço de mim como aí em cima, eu toda desse jeito:

**
O pior das gripes e resfriados, não é aquele nariz, chato, remelento e pingando o tempo inteiro, e sim, a falta de cheiro. Como saber se o próprio cheiro está meio mal?

**

Minhas intenções eram as melhores possíveis.
Não escrevo com o lápis à toa...
Nesta específica página,
se desmanchado for
sua marca ficará.
Amanheci.
Dói-me a garganta. (não dói)
Nada em você preocupa-me doença. (resfriado)
Tudo manhã.
Sol manhã.
Nuvens manhã.
Lua manhã.
O dia lá fora, manhã.
E eu aqui num esforço neurônico
sem espaço pensante,
sem tempo corrente para dedicar...
Derrubem as quatro paredes.
Desliguem os ares,
condicionados sempre estarão
se assim ficarem.
Quero - mexer - a terra produzir.
Pintar - as tintas colorir.
E fim, mas sem acabar totalmente, pois continua
o brincar, o sentir, o transgredir, o por, o opor, ...
Belos verbos substantivados.


**

Os parênteses foram acrescidos e mais, muitos espirros, calafrios, os olhos ardidos e lágrimas brotando, o corpo dói, a cabeça dói.
Mas não dá pra parar, tenho os leva e traz, os afazeres, as demandas, os cuidados, e parece que tudo grita.
Mas também, nada que um bom chá de limão com alho, mel e própolis não alivie.
Beijos virtuais sem vírus

o refúgio disse...

Fica boa, descansa e se recupera, querida.

Volte quando puder, quando der vontade.

Beijo daqui, de Recife

Vais disse...

Ei, doce Sandrinha,
Ah, moça, a gente dá um tumé no que puder, pras recuperações, mas o chá é batata, melhora mes.
grata, sempre, o carinho
beijo recebido
e vão uns daqui das Minas

Cris de Souza disse...

elementar, minha cara! quintanear é comigo mesma...

beijos desta capixaba.

dade amorim disse...

Está certo quem disse: ouve-se o rumor do verso.

Beijo beijo, matantdo saudades.

Vais disse...

Ei, Cris, comigo também, moça :)
mais beijos desta mineira


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Seja bem vinda, Dade, sempre, e é um prazer você por aqui
saudades matada, hehe
e ouvindo os rumores
beijos, querida

A tormenta que se tornou

A vontade é ir preenchendo as tantas linhas vazias com toda manifestação das emoções que se dão, afloram e transpiram, ocupando de rab...