A
ABELHINHA COM ALMA DE MARIPOSA
Era uma
vez...
Natureza-mãe,
mãe das abelhas, das mariposas.
Num
lugar não muito distante, sem castelos, príncipes ou princesas, mas com uma
rainha e muitas operárias, em um Recanto, uma colméia.
E eis
que em um belo dia de verão, quente e de sol a pino, nasce uma abelhinha igual
a todas aparentemente, sua diferença era outra, ela nascia semelhante, mas sua
alma pertencia a outra espécie, a das mariposas. Ninguém na colmeia poderia dar
por esta diferença, assim de imediato, não era aparente, pertencia às entranhas,
as coisas aconteceriam mais pra frente.
Tudo
transcorria normal desde seu nascimento, até o momento, ainda na infância, que
marcaria o resto de sua vida.
Depois
de um dia de aprendizados e trabalho, quando todas voltavam para a colmeia, de
repente, depararam-se com um fumaceiro vindo de um fogaréu. Enquanto as outras
zuniam agitadas tentando voar pra longe, nossa abelhinha parou, hipnotizada, a
quentura percorrendo todo seu corpinho até às asas. Parou encantada e de olhos
arregalados percorria as cores que se mostravam, cores intensas, vermelho,
amarelo, laranja, azul. O que era aquilo? Se perguntava. Sacudida e tirada foi
puxada por uma adulta para longe dali, ela nada ouvia das abelhas grandes e nem
das amigas que zumbiam doidinhas, desesperadas. Ao ser levada de volta, reparou
sim, em outras voadoras que vinham ao longe bailando e entoando sons diferentes,
pareciam até cantar.
Ao
chegar segura na colmeia quis saber o que era aquilo que havia visto e foi logo
despejando:
- Que
cores eram aquelas tão bonitas e tão cheias de calor? De onde vieram? Qual é o
seu nome? Quem fez aquilo?
Foi o
bastante para paralisar todas as abelhas que ali estavam, o choque com as
perguntas da pequena foi maior que o susto de há pouco, então uma das mais
velhas disse:
-
Pequenina, acaso quebraste as antenas? Aquilo que nos fez arder olhos e nos fez
tossir é a fumaça e o que estava atrás, embaixo, do lado dela é o fogo. Ele
queima, temos medo dele e acabaria com ti num segundo.
A
abelhinha não se importou com aquelas palavras e ainda mais curiosa:
- De
onde o fogo (experimentando o som), o fogo vem, como ele aparece? E aquelas
outras que chegavam, quem eram, de onde vieram?
-
Chega! Você precisa de descanso e se acalme, pode ter batido a cabecinha. É bom
que fique longe daquelas, elas são as mariposas, são adoradoras, dizem até
fazer sacrifícios. Mas isto não é assunto pra ti. Vá!
Ela se
foi, mas desde este dia nada mais seria como antes. Ela queria mais, queria
saber mais sobre o fogo, queria saber mais sobre as mariposas e decidiu, tinha
que ir embora.
Mas o
tempo foi passando, e a abelhinha crescendo, se tornara uma jovem abelhinha
graciosa e formosa, forte e corajosa. Sempre a cumprir com seus afazeres de
operária, no entanto sempre que surgia ou ela fazia surgir uma oportunidade
saia à procura do fogo. E sozinha ia, e quando podia sentir fumaça sabia que
tinha fogo, ia voando e ao chegar perto parava e ficava por tempos lá olhando e
sentindo. Um dia resolveu chegar mais perto e não soube descrever o que passou
com ela, desde as antenas passando pelas asas até o ferrão, ficou maravilhada,
extasiada, quase um transe, não entendia porque ficava assim tão fascinada e
atraída. Neste dia viu as mariposas de perto, eram as grandes, havia uma beleza
em suas asas, e como elas pareciam livres e belas e tão seguras.
Não
entendia o que se passava com ela, um medo, um desejo, mas não agüentava mais,
tinha que ir embora.
Numa
noite, largou tudo para trás e se foi.
Alguns
dias se passaram... e muito se deu nesses dias.
E em
uma noite mais adiante, ela voando, procurava um lugar para descansar, foi
quando ouviu estranhos barulhos e ao longe pode perceber pontos de luz, as
anteninhas logo se esticaram e ela excitada voou naquela direção.
Voou
entre as árvores, chegou a uma pequena clareira onde três seres estavam, ainda
não havia visto tipos como aqueles, gigantes, eram retos, usavam somente duas
pernas para se locomoverem e as outras duas usavam para pegar coisas, e ela
pode escutar além do som que faziam com a boca outros sons que vinham de uma
caixinha, gostou daquilo. Foi quando viu as brasas, já sabia das brasas e pode
ver em três pontos diferentes, grudadas nas árvores três coisas compridas,
brancas e na ponta de cada uma, uma chama, uma labareda, um pequeno fogo. Nunca
tinha visto fogo assim pequeno, parado, apenas uma chama que brincava com o
vento indo e vindo, oras parecia que ia apagar, mas de repente aumentava.
Resolveu chegar perto da que estava mais ‘dançante’ e sem medo se aproximou.
- Olá!
Eu sou a abelhinha.
- Olá,
abelhinha, eu sou a chama de uma vela ou o fogo de uma vela, como você preferir.
- Vela?
O que é isto?
- Você
vê este corpo comprido, ele é feito de cera e bem no meio tem um cordão, é o
pavio, o que queima e faz a chama que você vê.
- E
como é?
- Estes
que você vê acendem o pavio e vou queimando devagar à medida que a cera vai
derretendo.
-
Aaaaahhhhh! E nós podemos brincar? E você pode me contar tudo o que você
sabe?-Pede a abelhinha.
- Claro
minha pequena, mas estou preso aqui.
- Não
importa vamos nos divertir.
Assim
começou a amizade entre a abelhinha e aquela chama, o fogo de uma vela. Assim
passaram aquele tempo conversando, brincando, dançando, fazendo sombras, a
abelhinha contava dela e a chama explicava tudo que sabia sobre si e mais.
E a
cera foi derretendo.
Pouco
antes do pavio queimar totalmente ele fala à abelhinha:
-
Preciso ir querida abelhinha, se cuida e fique longe dos grandes, foi um prazer
conhecer você e passar uma noite, uma existência tão agradável.
- Eu
verei você novamente?
- Sim,
você me verá em outras velas. Adeus, abelhinha!
E a
nossa pequena abelhinha muito emocionada e feliz, no último instante da chama,
ela voa para dar um abraço de despedida em sua nova amiga. A chama e a
abelhinha que havia nascido com alma de mariposa se apagam no abraço.
FIM